O
recrudescimento da violência e ameaças de invasões e guerra entre israelenses e
palestinos volta a preocupar o mundo, aparentemente ao mesmo tempo em que
Israel parece novamente mandar às favas a opinião internacional, dizendo que a
cada momento um ataque terrestre está mais próximo, como fez nas últimas horas
o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. A história e o direito internacional
nos mostram que a solução pacífica de litígios internacionais é alcançada de
diversas maneiras, mas no caso deste conflito tudo leva a crer que somente uma
ação coordenada possa vir a saná-lo.
É enganoso
imaginar que o país que talvez tenha tido o maior apoio internacional na
história contemporânea para seu surgimento agora esteja dando as costas a essa
mesma comunidade internacional. Israel sabe que não pode deixar de ouvir a
opinião da ONU e de outros países na questão, mas ao mesmo tempo tem que dar
uma reposta ao seu público interno, reforçando sua soberania que, afinal, é um
dos motivos e uma das características principais de qualquer Estado.
O poderio
militar de Israel, no entanto, especialmente em comparação aos palestinos –que
ainda lutam pela criação formal de seu Estado, a exemplo do que ocorreu com
Israel– é inegavelmente grande o suficiente para justificar uma preocupação
mundial com uma carnificina. A pressão internacional é, portanto, justificável
e lícita e, podemos imaginar, a única garantidora de que realmente essa
carnificina não venha a ocorrer (ou ser ainda pior do já está acontecendo).
A coordenação
dessa pressão internacional é a chave para a solução da questão. Medidas
diplomáticas isoladas se enfraquecem, na medida em que representam interesses
muitas vezes antagônicos. O próprio 11 de setembro é fruto, no limite, desse
“unilateralismo” internacional, se assim podemos denominar.
A ONU é o
grande palco que não deve ser desprezado. Enfraquecida na última década, inclusive
em razão dos acontecimentos pós-11 de setembro, a ONU foi o elemento de
ponderação (e centralização) que permitiu o nascimento de Israel e certamente
passará por ela, e não apenas por ações diplomáticas de poucos Estados, por
mais importantes na esfera internacional que sejam, a criação de um Estado
palestino. Por sua vez, sem esse novo Estado, não se imagina possível o início
de um período duradouro de paz na região, uma vez que não representaria solução
minimamente adequada a um dos lados no litígio.
Está mais do
que demonstrado que ignorar essa coordenação da pressão internacional significa
simplesmente mais do mesmo, isto é, daquilo que vem sendo feito nas últimas
décadas –e esse mesmo importa na perda de muitas vidas humanas e no crescimento
do sentimento de vingá-las por parte daqueles que sobrevivem. Não há outra
forma à mão para a solução real do problema e a alegação da existência de grupos
extremistas e de falta de interlocução apenas parecem ser desculpas. Afinal,
são vários os países que convivem com extremistas em seus territórios e ainda
assim conseguem, na medida do possível, dar conforto à sua população. Sem a
formalização de um Estado, no entanto, mistura-se no mesmo balaio uns e outros,
à conveniência de interesses unilaterais –e à custa de milhares de vidas
humanas.
(publicado originalmente no Estadão noite de 14 de julho de 2014)