por Carlos Roberto Husek, professor de direito Internacional
da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional
Público e Privado
A extrema direita fora da França e da Inglaterra, mas dentro
de outros países e cidades!
Não é um modo de ver o mundo; é um modo de não ver o mundo.
Não enxergar as pessoas, não enxergar a fome, não enxergar as possibilidades de
crescimento social, não enxergar a democracia.
Não se diz que a esquerda tem razão total, mas não se diz que
quem a tem é direita, como afirmou um poeta, “Direita e esquerda não são
mais questões centrais”.
Quando o poder está nas mãos de fanáticos, quer sejam da
esquerda ou da direita, outra será a medida para análise, que não pode fiar-se
em subterfúgios retóricos (silogismos abreviados, isto é, sem todas as
premissas; falácias, analogias falhas – com comparações indevidas e não reais,
apelos éticos ou religiosos que impressionam o público desavisado).
Em pleno século XXI estamos atrelados às bruxas! A impensável
campanha de destruição que alguns líderes atuais engendram em países vizinhos, matando
crianças, velhos, doentes em hospitais, alunos em escolas, famílias, todos como
se pertencessem ao grupo de soldados inimigos armados e prontos para atacar
(premissa equivocada, religiosa e apelativa), é a insensatez levada a extremos.
A psicose do poder está espalhada no mundo atual, quando pensávamos, que isso
era ignorância antiga e já passada! E pior! Há os que – influenciadores na
mídia - apoiam ou se calam, como se tudo fosse normal. Talvez seja normal! Os
loucos acham tudo normal!
A vida está repleta de celulares, vídeos, amigos imaginários
(mil amigos na internet!), que tornam o ser humano, desde a tenra idade,
escravo de sua própria e individualista imaginação, mas que aceita, de forma
clara ou encoberta, o pertencimento a uma determinada “tribo”, em geral, de
componentes extremistas que não se justificam, salvo pela violência da ação e
da palavra, e só necessitam de aplauso e apoio.
Milton Santos, geógrafo, esclareceu: “antigamente as grandes
nações mandavam seus exércitos para conquistar territórios, a isso deu-se o
nome de colonização; hoje, mandam as multinacionais para a conquista de
mercados, a isso deu-se o nome de globalização.”
Acho que regredimos, ainda mais, dessa percepção do geógrafo,
porque somamos a conquista dos territórios, com a conquista dos mercados, aquela
conquista – a dos territórios - patrocinada pelo mercado, esta última – a dos
mercados - alimentada pelos territórios conquistados.
Roubar, fazer gestos pornográficos, brandir a mão, com armas
brancas ou de fogo – de forma desafiadora, é a suprema conquista do
convencimento de uma sociedade doente, que não mais vive de sua consciência,
senão do depósito de cascalhos e monturos recolhidos e enterrados no fundo
escuro da inconsciência coletiva e individual.
Somos uma sociedade doente. Alguém duvida?
Perigosamente as pessoas estão voltadas para os seus próprios
umbigos, pelo menos nas grandes cidades: só interessa o que for benéfico aqui e
agora. O passado não existe, o futuro é impensável. Restaria a satisfação do
momento. Acaso, se amanhã vamos ou não acordar, vamos ou não viver, vamos ou
não construir, vamos ou não pensar, não importa: quero o que quero já. O
descompromisso é a marca.
Somos uma sociedade doente. Alguém duvida?
“o que amanhã não sabe,
O ontem não soube.
Nada que não seja hoje
Jamais houve.” (versos de Paulo Leminski)
Hoje, não tenho palavras,
ontem elas estavam em ebulição,
amanhã estarão natimortas,
na própria concepção. (meus versos)