segunda-feira, março 25, 2024

Apenas “para jogar conversa fora”

 


Por Carlos Roberto Husek, professor de Direito Internacional da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional Público e Privado

 

Regar uma planta,

na árida terra,

faz vir ao mundo,

a flor que a encerra.

 

Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão.” (Paulo Freire)

Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser opressor.” (Paulo Freire)

 

É necessário aguar, borrifar, irrigar nossas intenções em cada vaso que constitui o nosso mundo, individual e coletivamente.

Diante de uma estéril sociedade, amorfa e despersonalizada, que elege seus líderes em face do tamanho de suas mandíbulas e dos dardos venenosos que jogam nos discursos de ocasião, e das bravatas que disseminam em ambiente árido e desértico, de luz e de sensibilidade, quase impossível cultivar a compreensão, a amizade, o amor.

Rega-se a terra com balas, canhões, bombas e ódio; daí nasce o caos, a fumaça, o sangue, a insensatez, e cada vez mais apostamos na escuridão e entregamos nossas vidas nas mãos dos usurpadores que avocam para si todas as virtudes humanas.

Não é isso que representam certos líderes atuais? Não digo os nomes; recuso-me a nomeá-los. Todos sabem quem são: os que provocam fanatismo, os que se arvoram donos da verdade, os que denigrem as instituições, os que não dialogam com a ciência, os que se elegem eliminando inimigos e prorrogando os próprios mandatos, os que desejam um busto em praça pública, os que dão medalhas aos próprios familiares e amigos, os que incentivam as armas e desfilam de uniforme sobre cavalos e canhões, os que não desejam educadores e fazem vistas grossas para o diálogo, os que somente favorecem os apaniguados e querem subserviência total.

Enfim, de quantos líderes assim, o mundo está repleto!

É necessário regar a planta do saber e da cooperação e da sensibilidade.

sexta-feira, março 08, 2024

Palavras ao vento em um mundo meramente conotativo, polarizado e polissêmico

 


por Carlos Roberto Husek, professor de Direito Internacional da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional Público e Privado

 

 

Palavras ao vento.

                         ... Invento,

e eu mesmo interpreto,

e choro e rio,

                                 teorizo.

É o meu modo de olhar,

...inferno e paraíso.

 

 

A denotação, ensinam os gramáticos, é aquilo que é; tudo aquilo que no sentido de um termo é objeto de um consenso na comunidade linguística; a conotação é o que a significação tem de particular para um indivíduo ou para um grupo. E, com isso, temos também a polarização e a polissemia. Com a primeira temos a tendência de reconhecer apenas os extremos, negligenciando as posições intermediárias; com a segunda reconhecemos vários significados para uma mesma expressão. Tudo, segundo lições de Othon M. Garcia, in Comunicação em prosa moderna (FGV Editora, 27ª. Edição, p.179 e 183).

O referido autor exemplifica bem o que acontece no mundo atual:

Outro óbice da comunicação é o que se chama de polarização, essa ´tendência a reconhecer apenas os extremos, negligenciando as posições intermediárias` cujas raízes se encontram ´nos sistemas de ética que exerceram influência sobre o mundo moderno (...). Desde Abel e Caim o mundo se dicotomiza em antagonismos, agravados ainda mais pela complexidade da vida moderna. Hoje o mundo está ou parece estar dividido entre Oriente e o Ocidente – que já não assinalam apenas contrastes geográficos -, entre comunismo e imperialismo, entre desenvolvidos e subdesenvolvidos. Essa polarização constitui o grande problema do nosso século, e a comunicação humana tem de sofrer o impacto desse conflito, impacto tanto mais grave e daninho quanto mais intencional for o sentido das palavras com que os homens procuram traduzir ideias, conceitos, opiniões. A polarização e o sentido intencional tornam a linguagem ainda mais polissêmica, agravando os conflitos e os desentendimentos. Que se entende exatamente por nacionalista, por entreguista, por reacionário, por democrata, por imperialista, por comunista, ou socialista ou subversivo?  Há 30 anos ou menos, nazistas e facistas, que se opunham, e ainda se opõem, a comunistas, diziam-se, e ainda se dizem, nacionalistas; hoje os nacionalistas são com frequência tachados de comunistas, e aqueles outros de reacionários. Os partidários da estatização eram antes facistas, hoje são comunistas, mas eles mesmos se dizem nacionalistas. Quem defende a iniciativa privada é anticomunista para uns, reacionário para outros, embora se considere democrata e progressista. Para muitos o nacionalismo é amor à pátria, para outros xenofobia... Polarização e polissemia de mãos dadas.” (grifos nosso).

Inventamos conceitos e por eles morremos.

A humanidade seria mais feliz, se apenas “déssemos aos bois o nome que os designa”, mas fantasiamos que eles são pássaros e voam.

Vivemos em um mundo político-social de sonhos e pesadelos, longe da realidade.

 

O passado é argamassa,

e faz elos, e reconstruções,

o futuro (in) possibilidades.

Com ambos

sou apenas permanência,

e tenho em mim

todos os credos

e todas as idades.