segunda-feira, novembro 28, 2022

Para que servem as armas?


Resposta, pura e direta: para matar. 

Não foi isso que aconteceu no Espírito Santo? Não é isso que acontece em todo lugar? O povo necessita de armas para comer, para estudar, para se vestir? CEGOS, SURDOS, BURROS. Quem acha que o cidadão precisa de armas para ser livre, tem a idiotice incrustada nas células. Será que não vamos progredir como pessoas e como civilização? A sociedade está doente e a doença já está quase passando do estágio de tratamento leve. Ou se proíbem as armas ou se aumentam os cemitérios e crematórios: simples, assim.


sexta-feira, novembro 18, 2022

O fazer diplomático – atividade óbvia?

 


Por Carlos Roberto Husek – professor de Direito internacional da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP- Oficina de Direito Internacional Público e Privado

 

A diplomacia é uma atividade de várias facetas e vários atores, nem todos com formação específica –Diplomacia– mas, provavelmente, com o mesmo espírito: diálogo, conversa, negociação, ganhar e perder, aproximação, superação de obstáculos, reconhecimento de espaços ocupados por outros saberes e outras visões do mundo. Daí ser possível diplomacia sem diplomatas em determinadas situações, mas informados pelo “fazer diplomático” (aqui a expressão tomada não na sua estreiteza puramente técnica e sim como fundamento das relações humanas e de Estados com estrangeiros e com outras nações): empresários em negociação com outros empresários, governantes com outros governantes, mas sempre com o objetivo de tornar um pouco melhor a “coisa pública”, favorecendo o maior número de pessoas e racionalizando a governabilidade.

Quando um governante assume o poder, além das funções administrativas, nas áreas da Economia, da Justiça, do Trabalho, do Comércio, da Educação, da Cultura, da Indústria, da Segurança, e outras, também assume a representação do Estado além das fronteiras. Para tanto, facilita a sua atuação, os princípios postos na Constituição Federal, inseridos no seu artigo 4º: independência nacional (I); prevalência dos direitos humanos (II); autodeterminação dos povos (III); não intervenção (IV); igualdade entre Estados (V); defesa da paz (VI); solução pacífica dos conflitos (VII); repúdio ao racismo e ao terrorismo (VIII); cooperação entre os povos para o progresso da humanidade (IX); concessão de asilo político (X) e; integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando a formação de uma comunidade latino-americana de nações (par. único). Não é tão difícil assim! Basta seguir a Constituição Federal, que é nossa Lei Maior. Este é o terreno fértil onde se desenvolverá o que for plantado, com possiblidade de ser um vistoso jardim, o patamar, a argamassa para erguer o edifício da pátria e dizer ao mundo quem é este Estado, comandado por eventuais novos governantes. Claro que o Estado é permanente e seus governos, provisórios, mas estes, no tempo de mandato em que exercem as funções de governo, imprimem ao Estado a face que ele representa para o mundo. A nossa Constituição Federal revela para sempre a base desta face, cujas intervenções devem ser meramente cosméticas, para realçar suas linhas, salvo atos revolucionários que a modifiquem, o que, a seguir seus ditames, não é permitido.

Não se pense, contudo, que o governante esteja engessado pela Constituição; não está, porque cabe a ele, no caso do Brasil, dentro dos parâmetros constitucionais, formular a política externa que, embora não se confunda com a Diplomacia, dela faz parte e a ela se direciona, a exemplo, como formular ações prioritárias em relação à economia, ao Mercosul ou à África, etc.

Guimarães Reis explicita: “Vista com perspectiva e neutralidade, a política externa pode ser comparada a uma plataforma de lançamento ou mesmo um palanque de comício: algo assumido e apregoado, até para ter validade pública. Nesta matéria, o Governo que se inaugura –em geral nos discursos de posse– não tarda em dizer a que veio, ainda que para acrescentar simples variações do que antes fazia. Adicionalmente a política externa pode ser objeto de um programa especial, de uma estratégia, ou mesmo de uma ´doutrina`, até o limite de um artigo de fé.[1]

A diplomacia, ao seguir os impulsos da política externa –repita-se, sempre atrelada aos princípios constitucionais–, como ensina o diplomata já acima mencionado, é uma obra em aberto, em construção. O sucesso do governante, nesta tarefa, depende de seu conhecimento, de sua sensibilidade, de sua inteligência: “Em contraste com o que estamos caracterizando como política externa, a diplomacia é –por natureza– uma ´opera aperta`. É uma obra em aberto porque, em seu âmago, é um processo ´in fieri`, isto é, uma permanente evolução, o que não obsta a consistência. Idealmente, a diplomacia prefere deixar que o real fale por si, sem prejulgar de sua inesgotável liberdade... (...). Acontece que o mundo não se dá em percepção instantânea– tem de ser interpretado, inclusive em seus signos. Nesse sentido, a diplomacia é também uma hermenêutica. Mas, é uma hermenêutica focada na situação, como já assinalamos, porque a diplomacia lida com o momento, o particular, o atual, o urgente. Ela ´vai às coisas`, tem de buscar incessantemente a ´verdade efetiva`, para usar uma expressão de Maquiavel.[2]

Desse modo, temos a Constituição Federal como base para as ações do Governo, a política externa, como a administração do que pretende priorizar na sua política externa e a diplomacia como meio pacífico e inteligente de interpretar a realidade, em busca de afirmação e de progresso de um determinado povo, construindo os relacionamentos de acordo com as prioridades governamentais.

A tarefa é complexa. Governar é mais do que saber, é sentir. É trabalho, é humildade, é grandeza de espírito, é vocação e a Diplomacia é a ferramenta, interna e internacional, de que o Governo se serve para as ações mais delicadas. Neste último aspecto deve-se servir dos instrumentos técnicos e dos órgãos de relações externas, sob o comando do Ministério das Relações Exteriores.

Não se pode entender Governo de sucesso sem diplomacia.



[1] Reis, Fernando Guimarães. Caçadores de Nuvens – em busca da Diplomacia, Fundação Alexandre de Gusmão, Brasília, 2011, p.190. (Diplomata de carreira, foi embaixador no Japão)

[2] Ibidem, p. 192.

quarta-feira, novembro 09, 2022

Nazismo/Nacional-socialismo/hitlerismo, mussolinismo (e outros ismos)

 


Por Carlos Roberto Husek – professor de Direito Internacional da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional Público e Privado

 

Não consigo bem entender esses “ismos” e o fanatismo (outro “ismo”) que eles provocam. As pessoas parecem ficar tomadas, a ponto de raivosamente empunharem armas, bandeiras e até (fato recente), atacarem ônibus escolares em Jundiaí (homens feitos, atacando um veículo cheio de crianças!).

Não percebo racionalidade nesses “ismos”: um bando de animais (humanos?) a ranger os dentes, embandeirados, que pretendem o ressurgimento de Hitler e de Mussolini no país do futebol, das praias, da diplomacia, da leveza nos relacionamentos?

Será alguma espécie de reencarnação dos espíritos guerreiros e primitivos da 2ª. Guerra Mundial? Sim, porque nem Hitler nem Mussolini tinham vida familiar e sexual normal (é o que dizem). Como é possível ser normal, detestando algumas espécies de raças e de mulheres e de opções sexuais? Talvez gostando só da própria imagem, admirando-se em um lago plácido ou em um espelho: narcisismo (outro “ismo”). Aliás, é certo, afirmam os analistas, que Hitler, Mussolini (para não dizer de outros, no mundo atual, na História e aqui no Brasil), adoravam a própria imagem, personificando-se perante o povo, para serem adorados e seguidos (sem qualquer oposição). Incrível, os seguidores e asseclas não pensam! Reagem aos gestos histriônicos, às falas inflamadas, como diante de um milagre religioso, de um ícone, de um mito!

Bobbio, Matteucci e Pasquino, explicam: “O nacional-socialismo se estruturava com base num darwinismo social nacionalista, racista e muito simplificado, tornado popular pelos escritos de radicais sectários. Porém, ao mesmo tempo, procurou, mediante uma mistura eclética de programas doutrinários e políticos, atingir todas as camadas da população. Os primeiros slogans do nacional-socialismo, pelo seu sucesso imperialista e expansionista e pela submissão ao Governo ditatorial nacionalista, foram elaborados para distrair a classe média e a classe operária dos reais problemas internos. A “comunidade nacional” foi escolhida para ser panaceia que curaria os males econômicos e políticos, no lugar do pluralismo econômico e da sociedade classista. As doutrinas militaristas e racistas foram os instrumentos utilizados para enganar e conquistar a população. Na campanha contra o tratado de Versalhes se fez uso de um nacionalismo agressivo que apelava para o tradicional sentimento alemão de unidade e foi explorada a visão de uma grande Alemanha unida[1] (mera coincidência com os recentes acontecimentos no Brasil? Deus, Pátria, Liberdade!). Deus para alguns – não para todos –, Pátria, somente a de um grupo que pegou para si o verde e amarelo (tão caro e bonito para todos os brasileiros, independente de raça, credo religioso ou posição política!), Liberdade, só para os apoiadores dos donos do poder. “...Além do culto ao Führer, que era uma resposta ao desejo autoritário de ordem, a versão social e biológica do anti-semitismo se tornou uma das primeiras características fanáticas do programa hitlerista”[2].

Não percebo racionalidade e inteligência nestes fanatismos.

Tudo isto estava embutido na consciência de milhares de pessoas, prontas para o gesto da supremacia branca, transformado em milhões de voto. Ignorava-se?

Como será o futuro? Agora, ao contrário dos intolerantes e obcecados pela imagem do mito, verde e amarelo e azul, mas poderá tornar-se negro com o símbolo da suástica no meio da “Ordem e Progresso”.

Por que será que livros e pensadores fazem tanto mal a essa gente?

Por que será que só querem medalhas e canhões?

Por que será que não duvidam de suas próprias ideias?

Como foi dito em uma piada: se a seleção brasileira não ganhar a copa do mundo, poderemos obrigar a FIFA a anular o resultado e nos oferecer o troféu. Somente nós somos efetivamente grandes, e o mundo do futebol tem que reconhecer isso!

A loucura tem limites, mas se espalha de tal maneira, que não é mais possível reconhecer o irmão, o vizinho, o parente, o primo, o amigo, dispostos a pegar em armas em nome de... em nome do que, mesmo? São como canibais e, também, auto canibais, comem a todos e a si mesmos, impondo religiosamente flagelos corporais e psicológicos em nome de nada. Suados em desforços físicos inimagináveis aparecem como hordas e se comportam como gado, comandados por uma voz interior, que grita: “Ao ataque”.



[1] Bobbio, Norberto. Matteucci, Nicola. Pasquino, Gianfranco. Dicionário de Política, Editora UnB, 5ª. ed, 1983, p.810.

[2] Ibidem, p. 810.

sexta-feira, novembro 04, 2022

Migalhas Odipianas

 


Por Carlos Roberto Husek – professor de Direito Internacional da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional Público e Privado.

  1. É possível ainda um golpe contra a Democracia, escudado por agentes do Governo, contribuindo com paralisações criminosas, que não querem reconhecer o resultado das eleições? Temos um sistema jurídico que deve ser obedecido?
  2. Civilizada e democraticamente, o Presidente eleito foi cumprimentado, em tempo recorde, pela maioria dos governantes do mundo, da esquerda e da direita, o que é próprio de estadistas e da praxe diplomática internacional. Obedecemos aos princípios da Diplomacia?
  3. Ainda perduram os golpistas, alimentados pela omissão do Presidente em exercício, ou por sua conivência aos atos contrários à ordem jurídica. Onde estão as quatro linhas da Constituição Federal?
  4. O derrotado de hoje – se inteligente – poderia vir a ser o vitorioso de amanhã. A Política se constrói com inteligência e não com bravatas.
  5. O povo brasileiro – não importa o voto – concorda com isso: só vale a eleição se o meu candidato vencer?
  6. E o que dizer do bloqueio das estradas? Se outro fosse o resultado das eleições e os apoiadores do perdedor fizessem tais mesmos atos, haveria correção e democracia?
  7. Sair em plena cidade de armas em punho perseguindo um negro, é isto pauta democrática?
  8. O Ministro da Justiça, embora deva a ter a confiança do Chefe de Estado, deve interferir na organização administrativa do Estado para beneficiar quem está no Poder, contrariando a Constituição Federal?

 

Mas vamos ao que interessa para o futuro próximo:

 

a)  O meio ambiente agora pode respirar. Não mais devemos ter a devastação da Amazônia, o cortar árvores e atacar povos indígenas, apesar do ex-ministro do meio ambiente, contrário à flora e à fauna, ter sido eleito para o Congresso.

b)  Os Direitos Humanos, espera-se, serão, com este novo governo, respeitados, apesar da ex-ministra dos direitos Humanos, que os contrariava a cada passo, ter sido eleita para o Congresso Nacional.

c) Não mais deverá haver descaso com a saúde – espera-se –, com atos governamentais que contrariem as medidas sanitárias determinadas pela ciência, no mundo inteiro, e pela OMS (com administração de panaceias, para combater a COVID: que interesses estavam por trás dessa atitude?), apesar do general, ex-ministro da saúde – que teve como ato mais importante de sua gestão a frase: “manda quem pode e obedece quem tem juízo – o Presidente fala e eu obedeço.”, ter sido eleito para o Congresso Nacional.

d)  Espera-se não mais desestruturação da Justiça e desrespeito ao Poder Judiciário.

e)  Espera-se não mais a deseducação dos Ministros da Educação (currículos falsos, promoção de negociatas, desrespeito às instituições).

f)    Espera-se não mais a loucura das armas e do poder bélico contra os que pensam diferentes.

Dúvida:

É possível que pessoas que estudam ou estudaram, hoje, com menos de 50 anos, pensem em comprar armas e sair atirando, como adolescentes contrariados. A Política necessita de inteligência para a conquista do Poder por determinado partido e determinada visão social, e não de moleques briguentos vociferando contra as eleições.

A Direita está acéfala. Pode-se não querer o domínio de um pensamento da Esquerda, mas seria necessário um contraponto; de uma concepção que poder-se-ia ser chamada da Direita, articulado, inteligente, cônscia das regras e dos princípios da ordem jurídica e não de vazios argumentativos. A chamada Direita – tão proclamada por membros do Governo – está necrosada pela incompetência de seus “líderes”. E depois, convenhamos, não há esquerda no país e sim bolsonaristas e antipetistas. Aí está a pobreza das nossas ideias

Lula, efetivamente, terá muitos problemas, porque terá que dialogar, negociar, raciocinar, com pessoas que não são afetas ao diálogo, ao raciocínio e à negociação.

O povo merece respeito.

As instituições merecem respeito.

A Constituição Federal merece respeito

O pavilhão nacional merece respeito.

Que o Deus das religiões oficiais e oficiosas nos protejam da sana dos fronteiriços!