Por Carlos Roberto Husek – professor de Direito Internacional
da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional
Público e Privado
As raízes são importantes, alimentam e demarcam o território.
Precisamos de raízes e de estabilidade institucional. Somos pobres de raízes;
nossa árvore institucional é aérea, alimenta-se do ar, do sol, da chuva e não
da terra, e ficamos assim, ao longo do tempo e da história, à mercê dos ventos,
ora sol demasiado - a estiagem, a seca; ora muita chuva que a tudo derruba,
enche os rios, carrega pedras, gado, postes, gente, arria pontes; ora o frio
inclemente, que quebra as folhas, congela as águas, encoruja as pessoas, que só
se protegem - olhos, nariz e boca, com panos e malhas, e não olham, não ouvem,
não sentem, fechadas para a vida. Estamos sem raízes na vida pública: cada um
que chega, vem sem compromisso com o povo, sem obediência à Constituição, sem
qualquer amor à pátria (tão “demodê”!), sem respeito a figuras maiores do
passado ou do presente. Xinga-se o papa, chamando-o de vagabundo, despreza-se
Paulo Freire, qualificando-o simplesmente de comunista. Faz-se pouco caso dos
males individuais dos homens, porque não são atletas e não são homens, são
maricas. Olha-se para as mulheres como objeto de consumo sexual e para os
pretos e índios como inferiores. Adoram armas e exibição de músculos, desde que
pertencentes às elites. Estes são os que se expõem aos aplausos, como gurus, mitos,
deuses, e desfilam o tempo todo, e falam o tempo todo, e conclamam o tempo todo
para que venham apreciar a sua própria beleza; narcisos que se enxergam na
bacia de água que preencheram com o vômito de suas intenções. Estão cegos e
cegam os demais.
A falta de amparos institucionais, alucina, enlouquece,
desvaria, embota, deslumbra, ilude. Somos pobres de raízes.
Nós seres humanos necessitamos de luz e de ar para progredir;
de raízes, só queremos instituições criadas para a fortaleza do Estado,
alimentadas pela Constituição e pela ordem jurídica dela decorrente, e a partir
daí a liberdade é de todos.
Não existem grupos privilegiados, pela religião, pela raça,
pela ideologia; nem o mágico retumbar de tiros e de bombas podem calar os que
querem justiça e paz; nem as continências desmedidas; nem a distribuição de
benesses àqueles achegados ao poder, nem as medalhas postas nos peitos murchos
de coração e de humanidade, nem os eventuais bustos, nem as ostentações objeto
de admiração e aplauso, porque somos muitos, escondidos, é verdade, tristes, é
verdade, temerosos, é verdade, sem representatividade e sem voz, é verdade, mas
formamos uma base de gente a respirar a liberdade, e que não se deixa enganar
pelo ruflar dos tambores.
“...(Q)ue os bons são os da nossa raça e os maus são da
outra; uma fórmula velha como a História. Se assim fosse a humanidade não se
teria misturado tanto. Se assim fosse, na realidade existiriam raças,
cientificamente provadas, o que sabemos não ser o caso do ponto de vista
genético. Mas sociologicamente elas existem sim, como forma de demarcação de
territórios de poder, influência e meios econômicos.” (Carlos Lopes, doutor
pela Universidade de Paris, in Mia Couto: um convite à diferença,
Humanitas, 2013).
Os donos do poder escondem a ignorância atrás da própria
arrogância, e nós outros, aceitamos tudo como natural.
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