Por Carlos Roberto Husek – professor de Direito Internacional
da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional
Público e Privado
Não consigo bem entender esses
“ismos” e o fanatismo (outro “ismo”) que eles provocam. As pessoas parecem
ficar tomadas, a ponto de raivosamente empunharem armas, bandeiras e até (fato
recente), atacarem ônibus escolares em Jundiaí (homens feitos, atacando um
veículo cheio de crianças!).
Não percebo racionalidade nesses
“ismos”: um bando de animais (humanos?) a ranger os dentes, embandeirados, que
pretendem o ressurgimento de Hitler e de Mussolini no país do futebol, das
praias, da diplomacia, da leveza nos relacionamentos?
Será alguma espécie de reencarnação
dos espíritos guerreiros e primitivos da 2ª. Guerra Mundial? Sim, porque nem
Hitler nem Mussolini tinham vida familiar e sexual normal (é o que dizem). Como
é possível ser normal, detestando algumas espécies de raças e de mulheres e de
opções sexuais? Talvez gostando só da própria imagem, admirando-se em um lago
plácido ou em um espelho: narcisismo (outro “ismo”). Aliás, é certo, afirmam os
analistas, que Hitler, Mussolini (para não dizer de outros, no mundo atual, na
História e aqui no Brasil), adoravam a própria imagem, personificando-se
perante o povo, para serem adorados e seguidos (sem qualquer oposição).
Incrível, os seguidores e asseclas não pensam! Reagem aos gestos histriônicos,
às falas inflamadas, como diante de um milagre religioso, de um ícone, de um
mito!
Bobbio, Matteucci e Pasquino,
explicam: “O nacional-socialismo se estruturava com base num darwinismo
social nacionalista, racista e muito simplificado, tornado popular pelos
escritos de radicais sectários. Porém, ao mesmo tempo, procurou, mediante uma
mistura eclética de programas doutrinários e políticos, atingir todas as
camadas da população. Os primeiros slogans do nacional-socialismo, pelo seu
sucesso imperialista e expansionista e pela submissão ao Governo ditatorial
nacionalista, foram elaborados para distrair a classe média e a classe operária
dos reais problemas internos. A “comunidade nacional” foi escolhida para ser
panaceia que curaria os males econômicos e políticos, no lugar do pluralismo
econômico e da sociedade classista. As doutrinas militaristas e racistas foram
os instrumentos utilizados para enganar e conquistar a população. Na campanha
contra o tratado de Versalhes se fez uso de um nacionalismo agressivo que
apelava para o tradicional sentimento alemão de unidade e foi explorada a visão
de uma grande Alemanha unida”[1]
(mera coincidência com os recentes acontecimentos no Brasil? Deus, Pátria,
Liberdade!). Deus para alguns – não para todos –, Pátria, somente a de um grupo
que pegou para si o verde e amarelo (tão caro e bonito para todos os
brasileiros, independente de raça, credo religioso ou posição política!), Liberdade,
só para os apoiadores dos donos do poder. “...Além do culto ao Führer, que
era uma resposta ao desejo autoritário de ordem, a versão social e biológica do
anti-semitismo se tornou uma das primeiras características fanáticas do
programa hitlerista”[2].
Não percebo racionalidade e
inteligência nestes fanatismos.
Tudo isto estava embutido na
consciência de milhares de pessoas, prontas para o gesto da supremacia branca,
transformado em milhões de voto. Ignorava-se?
Como será o futuro? Agora, ao
contrário dos intolerantes e obcecados pela imagem do mito, verde e amarelo e
azul, mas poderá tornar-se negro com o símbolo da suástica no meio da “Ordem e
Progresso”.
Por que será que livros e pensadores
fazem tanto mal a essa gente?
Por que será que só querem medalhas e
canhões?
Por que será que não duvidam de suas
próprias ideias?
Como foi dito em uma piada: se a
seleção brasileira não ganhar a copa do mundo, poderemos obrigar a FIFA a
anular o resultado e nos oferecer o troféu. Somente nós somos efetivamente
grandes, e o mundo do futebol tem que reconhecer isso!
A loucura tem limites, mas se espalha
de tal maneira, que não é mais possível reconhecer o irmão, o vizinho, o
parente, o primo, o amigo, dispostos a pegar em armas em nome de... em nome do
que, mesmo? São como canibais e, também, auto canibais, comem a todos e a si
mesmos, impondo religiosamente flagelos corporais e psicológicos em nome de
nada. Suados em desforços físicos inimagináveis aparecem como hordas e se
comportam como gado, comandados por uma voz interior, que grita: “Ao ataque”.
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