Por Carlos Roberto Husek, professor de Direito Internacional
da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional
Público e Privado
Como a razoabilidade não salva nenhum dos nossos governantes,
aqui e acolá – Ditadura na Venezuela e na Rússia, um Israel não bíblico e
cristão, uma Argentina incógnita e reacionária, um Equador em convulsão, o narcotráfico
se expandindo cada vez mais, as mudanças climáticas extremas provocadas pelos
governantes que só querem saber do lucro e do domínio e o uso indiscriminado e
incentivado de armas (apesar das convenções internacionais contrárias) - amigos
da ODIP, arrisco-me a postar algumas frases e versos, para começar o Ano e
tirar a aspereza da política, da vida e do Direito internacional: quem quiser
acreditar que o mundo pode ser melhor a começar pelo uso coerente das ideias e
das palavras, eis aqui, um arremedo de receita.
“Lutar com as palavras
É a luta mais vã
Entanto lutamos
Mal rompe a manhã.” (Drummond)
“Sozinhando” (de sozinho – Mia Couto), olho a chuva
fina riscando o tempo.
“Não é segurando as asas que se ajuda um pássaro a voar. O
pássaro voa simplesmente porque o deixam ser pássaro. Foi assim que falou o Tio
Aproximado. E depois partiu, engolido pelo escuro.” (Mia Couto em “Antes de
nascer o mundo”)
“ele, em dado momento se eclipsou” (Mia Couto em
“Antes de nascer o mundo”)
“- Lá andava fazendo o quê? Cavando buracos no vazio.”
(Mia Couto em “Antes de nascer o mundo”)
“E, então, duvidei: será que ele queria eternizar o
instante? Ou usufruiu a felicidade de haver porta e de poder fechar atrás de
si?” (Mia Couto em “Antes de nascer o mundo”)
“Essa pupila está cheia de noite.” (Mia Couto em
“Antes de nascer o mundo”)
“Se depois de eu morrer quiserem escrever a minha
biografia. Não há nada mais simples. Tenho só duas datas – a da minha nascença
e a da minha morte. Entre uma e outra cousa todos os dias são meus.”
(Alberto Caeiro – um dos heterônimos de Pessoa)
“Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei.
Ainda assim, escrevo.” (Mia Couto – Poema da despedida)
“Começo a reconhecer-me. Não existo. Sou um intervalo
entre o que desejo ser e o que os outros me fizeram.” (Álvaro de Campos –
um dos heterônimos de Pessoa)
“Se cada dia cai,
dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.
Há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar a lua caída
com paciência.” (Pablo Neruda – Cada dia cai)
“E a tarde morre sonolenta e fria
Como morreste de saudade e mágoas
E a lua triste como a Nostalgia
Chora na branca quietação das águas.” (Edgar da Mata – A garça)
“E quando vires esbatida e turva
Tremer a alvura dos cabelos meus
Irás pensando pelo seu caminho
Que essa pobre cabeça de velhinho
É um lenço branco te dizendo adeus!” (Guilherme de Almeida – sonetos)
“Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente
Tristeza esparsa...remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai gota a gota, do coração.
“E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca,
- Eu faço versos como quem morre.” Manuel Bandeira – Desencanto).
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o Mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Continuamente temos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, enfim, converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se a cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.” (Soneto de Luiz de Camões)
“Não conto nada na reta, escrevo sempre nas linhas tortas,
como digo aliás num poema. Na minha poesia parece que tem muita coisa de fora,
mas é tudo de dentro. Sou muito preparado em conflitos.” (Manoel de Barros
– Pensamentos)
“Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.”
Amigos, estudiosos e sérios acadêmicos, nossa ODIP necessita,
como tudo, de árvores, de luz, de água, de leveza. Só assim para entender em
profundidade as desinteligências do mundo. O Direito é um caminho, a arte, a
poesia e a ironia, outros caminhos. Podemos misturar tudo e ver no que vai dar!
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