por Carlos Roberto Husek, professor de Direito Internacional
da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional
Público e Privado
Palavras ao vento.
... Invento,
e eu mesmo interpreto,
e choro e rio,
teorizo.
É o meu modo de olhar,
...inferno e paraíso.
A denotação, ensinam os gramáticos, é aquilo que é; tudo
aquilo que no sentido de um termo é objeto de um consenso na comunidade
linguística; a conotação é o que a significação tem de particular para um
indivíduo ou para um grupo. E, com isso, temos também a polarização e a
polissemia. Com a primeira temos a tendência de reconhecer apenas os extremos,
negligenciando as posições intermediárias; com a segunda reconhecemos vários
significados para uma mesma expressão. Tudo, segundo lições de Othon M. Garcia,
in Comunicação em prosa moderna (FGV Editora, 27ª. Edição, p.179 e 183).
O referido autor exemplifica bem o que acontece no mundo
atual:
“Outro óbice da comunicação é o que se chama de
polarização, essa ´tendência a reconhecer apenas os extremos, negligenciando as
posições intermediárias` cujas raízes se encontram ´nos sistemas de ética que
exerceram influência sobre o mundo moderno (...). Desde Abel e Caim o mundo se
dicotomiza em antagonismos, agravados ainda mais pela complexidade da vida
moderna. Hoje o mundo está ou parece estar dividido entre Oriente e o Ocidente –
que já não assinalam apenas contrastes geográficos -, entre comunismo e
imperialismo, entre desenvolvidos e subdesenvolvidos. Essa polarização
constitui o grande problema do nosso século, e a comunicação humana tem de
sofrer o impacto desse conflito, impacto tanto mais grave e daninho quanto mais
intencional for o sentido das palavras com que os homens procuram traduzir
ideias, conceitos, opiniões. A polarização e o sentido intencional tornam a
linguagem ainda mais polissêmica, agravando os conflitos e os desentendimentos.
Que se entende exatamente por nacionalista, por entreguista, por reacionário,
por democrata, por imperialista, por comunista, ou socialista ou subversivo? Há 30 anos ou menos, nazistas e facistas, que
se opunham, e ainda se opõem, a comunistas, diziam-se, e ainda se dizem,
nacionalistas; hoje os nacionalistas são com frequência tachados de comunistas,
e aqueles outros de reacionários. Os partidários da estatização eram antes
facistas, hoje são comunistas, mas eles mesmos se dizem nacionalistas. Quem
defende a iniciativa privada é anticomunista para uns, reacionário para outros,
embora se considere democrata e progressista. Para muitos o nacionalismo é amor
à pátria, para outros xenofobia... Polarização e polissemia de mãos dadas.”
(grifos nosso).
Inventamos conceitos e por eles morremos.
A humanidade seria mais feliz, se apenas “déssemos aos bois o
nome que os designa”, mas fantasiamos que eles são pássaros e voam.
Vivemos em um mundo político-social de sonhos e pesadelos,
longe da realidade.
O passado é argamassa,
e faz elos, e reconstruções,
o futuro (in) possibilidades.
Com ambos
sou apenas permanência,
e tenho em mim
todos os credos
e todas as idades.
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