Por Carlos Roberto Husek, professor de Direito Internacional
da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional
Público e Privado
Há um partido político que vem à televisão para dizer que: o
seu candidato à presidência da República é o “.....”, e que se ele não puder
candidatar-se, o próprio “.....”vai escolher o candidato à presidência, e,
também, ele mesmo “.....”vai escolher o candidato a vice-presidente,
pergunta-se: É assim que deve ser uma agremiação política?
Enfim, há que se perguntar, o que é um partido político?
Imagino que seja constituído de ideias, de uma filosofia, de
um ideário, de conceitos sobre o poder, sobre a administração pública, sobre a
economia e sobre as questões sociais.
Uadi Lammêgo Bulos diz que “é uma associação de pessoas unidas
por uma ideologia ou interesses comuns, que, organizadas estavelmente,
influenciam a opinião popular e a orientação política do país”. Os partidos políticos
se destinam a assegurar, segundo os princípios do regime democrático
(grifos nossos), a autenticidade do sistema representativo e a defesa dos
direitos fundamentais.
Partidos existem, liberais, democráticos e radicais,
socialistas e comunistas, católicos e democráticos-cristãos, e outros; mas
serão radicais ou democráticos ou comunistas, na forma de conceber um governo
para a sociedade, e não deveriam ser constituídos, para exaltar uma única
figura de líder, posto que isso terminaria, pura e simplesmente, em culto de
uma personalidade – o grande pai, o grande mito, o grande deus! -, o que foge à
ideologia, à cultura, à democracia, à filosofia social, e faz com que os
extremos se toquem: os da chamada direita e os da chamada esquerda, na figura
de um único ser, que chamaremos, para todos os efeitos, de ditador ou aquele
que tem vocação para a ditadura. O ditador não tem partido, não tem filosofia,
não tem ideologia, não tem preocupação administrativa, não tem preocupação social.
O ditador só tem preocupação com ele mesmo.
O rei poderia estar nu, e não se perceber assim, e nós –
atropelados pelo massacre das propagandas – também não o perceberíamos.
O espelho não nos mostra a verdadeira imagem. Dominados pelo
inconsciente, individual e coletivo, nos envolvemos em uma fraude, e somos sombras,
do que poderíamos ser.
Não nos parece correto qualquer partido – seja ele qual for -
professar vassalagem explícita a uma pessoa, a que todos se subordinariam, em
pensamento, palavras e obras.
Em algumas campanhas eleitorais, não se fala - porque não é
importante - em democracia, em instituições, em voto livre do povo, em
educação, em aprimorar o pensamento, em respeito às diferenças em aperfeiçoamento
do diálogo: o que realmente interessa é só a manutenção do poder – o que sem
dúvida, é um legítimo objetivo de qualquer partido político, em um Estado
Democrático de Direito - mas não nas
mãos de um só, de uma só cabeça, de um só interesse encarnado em figuras
mitológicas, da esquerda ou da direita.
Um partido político pressupõe participação política de
cidadãos atentos à evolução da coisa pública, capazes de escolher entre alternativas
apresentadas pelo ideário político-administrativo, embora, na realidade atual, o
interesse político fique circunscrito a poucas pessoas, ávidas do poder e do
ganho econômico-financeiro que ele possa trazer.
Que mundo vivemos! Vamos recordar: escolas cívico-militares,
privatização das praias, armas para todos (num Estado que abdica do seu dever
de administrar o que é básico – segurança, saúde, educação - e deixa nas mãos
de interesses particulares – o bem-estar social), divisão de dinheiro dos ganhos
dos servidores para os titulares do gabinete de órgãos públicos, censura a
livros que buscam, didaticamente, ensinar que não há diferenças entre raças,
desprestígio daqueles que ganham pouco e que trabalham muito, como o professor,
criminalização do aborto, feminicídio como consequência da insubordinação ao
desejo contrariado do parceiro. E no mundo internacional, alianças
preocupantes, como a de Putin e Kim Jong-un, ditador da Coreia do Norte, para
defesa mútua e troca de armas, e outras (que a lista é grande!).
Os partidos políticos descaracterizados e desprevenidos,
servem de roupagem para os psicóticos do poder.
O ser humano acredita mais no que ouve e mais no que vê na
mídia tecnológica, do que constata com os seus próprios e orgânicos mecanismos
sensoriais e seu próprio raciocínio, isto é, pensar por conta própria,
duvidando de tudo o que falam e fazem os influenciadores do momento.
“Se o sim do poder
é o não do povo,
pobre do povo
que diz sim
ao poder de novo.”
“Se o não do poder
é o sim do povo,
morra o povo
que diz sim
ao poder de novo.”
“Seja vivo, seja morto,
o poder é sempre
o
corvo
sobre o sim e sobre o não
do
povo
que diz sim
ao poder de novo.” (Mário Chamie – O sim do poder, in Horizonte de Esgrimas)