terça-feira, junho 04, 2024

Nada do que escrevo pode ter sentido (admito meu fracasso em convencer)...

 


Por Carlos Roberto Husek, professor de Direito Internacional de PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional Público e Privado

 

 

 

Não vamos ser amargos, ou talvez o sejamos, se é que ainda todos nós possamos exercer a liberdade de escrever! Também, o que esperar de tempos políticos tão difíceis?!

Mas, se não me engano foi Fernando Pessoa que escreveu algo impactante: “Sucede, porém, que a estupidez humana é grande e a bondade humana não é notável.

Como explicar o nascimento da direita radical e neonazista no mundo atual, ou de qualquer coisa parecida, radical, vestida de mera opinião democraticamente posta, protegida sob o manto de uma seita, de uma religião ou de uma razão superior ou mesmo de eleições regulares? Talvez a frase acima explique esse fato!

Há tantas lideranças escuras! Verdadeiros buracos negros que atraem e chupam tudo o que está à sua volta. Absorvem toda luz e jorram ideias macabras, contrárias à sociedade, ao progresso e ao bem-estar dos indivíduos, e que são acolhidas e aplaudidas!

Trump está aí; Kim Jong-un está aí, Bashar al-Assad está aí, Benjamin Netanyahu está aí, Nicolás Maduro está aí, Putim está aí, e tantos outros, que só querem a guerra e a conquista! A atitude desses líderes se justifica pela história, pelo passado, pela religião, pela ideologia? Nada justifica a barbárie e a falta de bom senso dos atos praticados na atualidade, em nome do governo, do Estado, da raça, ou seja, lá do que for. Porque o ímpeto de manter o poder e de atacar os inimigos, repete épocas, em que alguns familiares desses líderes, talvez tenham sofrido, ou que grupo sociais minoritários tenham padecido nas mãos de sanguinários: “olho por olho, dente por dente”

É doentio, psicótico, injustificável sobre o ponto de vista do progresso e do bem-estar social. E, as nações modernas e soberanas têm que escolher algum lado! Qual lado? No caso de Israel não dá para escolher o Ramás – organização terrorista -, mas é possível escolher Netanyahu? Tais possibilidades não significam a escolha do povo judeu ou do povo palestino; este não é e não pode ser um real conflito. Os povos respectivos, que têm todo direito de existir e de serem respeitados, estão além das atitudes dos líderes atuais. O sonho do planeta irmanado, em diversas culturas e possibilidades, sempre foi somente um sonho. Pena que não tenhamos a grandeza de escapar da história negra da humanidade e fazer algo diferente!

E o que dizer dos propósitos da política interna de alguns países e do nosso próprio País?

- Vivam as armas?

- Construir escolas “Cívico-militares”, comandadas por militares e não por professores vocacionados ao ensino. É isso? Qual o papel dos militares: determinar ordens aos alunos, programarem como devem agir e obedecer, fiscalizarem os livros de ensino, para não incentivar raciocínios contrários ao que se entende por moral e bons costumes, em determinada época de domínio. Tornar cada criança capacitada em fazer exercícios marciais? É isso? Se é isso, estaríamos regredindo inexoravelmente como sociedade e como Estado.

Deviam construir, cada vez mais, “Escolas Cívico-civis”, que englobariam a defesa do Estado pelos órgãos institucionalizados para isso, mas sob o raciocínio da ótica das instituições organizadas pelo Estado-Democrático de Direito, em que todos falam e exercem o voto e podem ser votados, e em que a ignorância é afastada pelo ensino amplo, sem censura, e sem a consideração de classes mais aquinhoadas e de classes menos aquinhoadas (ninguém nasce para ser pobre, para ser burro e para sofrer; isto é, falácia dos dominadores) e em que a oportunidade apareça para todos, e em que a água potável, a comida, o lazer e o progresso, sejam as únicas sendas administrativas a serem perseguidas. Tudo em respeito à Constituição Federal e aos princípios maiores da República, em tempos democráticos.

Entendemos que a filosofia militar, em benefício do Estado, advém de uma base cívica da sociedade.  Escolas voltadas para a construção da cidadania, do voto democrático, da Literatura, da Filosofia, da Diplomacia, do pensamento crítico, do diálogo, da aceitação do outro, da alternância do poder e da defesa de nossas fronteiras.

É uma ideia estranha essa da “Escola Cívico-militar”, do jeito que está sendo divulgada, mais estranho ainda é ter pessoas que simplesmente a aplaudam, sem discutir os fundamentos e os propósitos

Mas não é só. Querem privatizar as praias! O que dizer de tão absurda hipótese? Tais privatizações favoreceriam a quem? O pobre, cada vez mais pobre, não ia poder mais usufruir do sol, da areia e do mar? A Marinha perderia o seu poder de fiscalizar as praias, que são por natureza públicas, e defender o Estado de invasores alienígenas? Por que passar um bem público para as mãos de particulares? Neste ponto, há de prevalecer a instituição militar, que não pode – na defesa da sociedade e do Estado estar paralisada por interesses privados!

Acham certo que os aparelhos que controlam a atividade policial, nos uniformes, sejam desligados pelo próprio policial, quando este bem entender, para não sofrer a fiscalização de seus atos no exercício da função. Isto é correto? Há a falsa ideia que se deve combater o crime e privilegiar a ação policial, estando este livre para ultrapassar os limites da lei. Deve-se prender o bandido e reagir quando for necessário – o que pode redundar na morte -, mas não se pode dar carta branca para matar. Claro, vão dizer que não é esta a ideia, então, o que justifica a possibilidade de agir sob os muros?

Nada que possa escapar à supervisão da sociedade e das instituições, e, principalmente do Judiciário, pode ser bom.

 

                                    “O essencial é saber ver

                                      E nem pensar quando se vê

                                      E nem ver quando se pensa” (Fernando Pessoa)

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