terça-feira, janeiro 14, 2025

Século XXI, século do regresso social – somos gados

 



Por Carlos Roberto Husek, professor de Direito Internacional da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional Público e Privado


Vladmir Putin querendo reeditar a velha União Soviética, atacando os vizinhos e buscando anexar a Ucrânia!

Kin Jong-um, ameaçando a Coreia do Sul e o mundo com bomba atômica e se unindo a Putin, para conquista de territórios!

Yoon Suk Yeol, entendendo que um regime de força – Lei marcial – na Coreia do Sul (Democrata!), é o melhor caminho para o progresso!

Benjamin Netanyahu, com estratégias para “dizimar o povo palestino!

Donald Trump, manifestando a sua vontade de mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América (do Norte, bem entendido...), observando que o Canadá poderia ser o 51º. estado norte-americano, também propondo a anexação da Groelândia e do Canal do Panamá!

Nicolás Maduro, afirmando-se contra todos os resultados eleitorais (eleições meramente formais, após afastar os opositores, Marina Corina Machado e Edmundo González), escolher os membros da Suprema Corte e do Conselho Eleitoral, subordinar o Parlamento e revelar o desejo de conquistar Essequibo, por invasão territorial, na Guiana!

Xi JinPing, determinou o seu projeto político de reunificar a China antiga, anexando Taiwan – Ilha de Formosa, China Democrática – ao território da China Comunista continental!

Pelos menos sete conhecidos e desastrosos dirigentes, apoiados ou não pelos seus específicos povos, mas garantidos pelas respectivas forças armadas e política, querem transformar a geografia do mundo, para os seus desígnios pessoais. Em alguns, era de se esperar que o fizessem, em outros, democraticamente eleitos e com uma história republicana de princípios constitucionais, nos surpreenderam, como eleitos para cargos presidenciais e de ministério, conseguiram divulgar ideias e planos de domínio e de absoluto poder!

A desinteligência domina e o que pensávamos nunca mais ver no mundo, após 1945, está perigosamente tornando-se realidade. Rasgam-se as Constituições, as Declarações Universais de Direitos Humanos, a Carta da ONU, as Cortes Internacionais, os princípios baseados na soberania dos Estados, para dar milhares de passos atrás na História.

As instituições criadas pelo homem, com sentido universal, coletivo, de progresso, paz, respeito, liberdade de manifestação, estão sendo enterradas, em uma Era, que talvez, venha a ser conhecida como a Era da Involução Social.

A tecnologia não nos ampara e não é parâmetro para a evolução da humanidade. Ao contrário, na esteira desses fatos, propostos pelos líderes do mundo, à esquerda ou à direita – esquerda e direita não existem mais! – se apoiam na comunicação dos “whatsapps”, “emails”, twitter, facebook, e outros do mundo da inteligência artificial para o domínio tão antigo como o do homem das cavernas!

A falácia da Liberdade de manifestação sem controle, impõe ao ser humano comum, cidadão de um Estado, a ditadura dos que estão no poder e querem mantê-lo para a eternidade.  

Mark Zuckerberg, dono da empresa mãe Meta Plataforma do Facebook, junta-se a Elon Musk, que ora se tornou secretário de Trump, para proclamar a liberdade total de opinião, sem qualquer restrição institucional, para consolidar o poder de Trump, nos Estados Unidos e, se possível, no mundo.

E todos nós, que somos contrários, passamos por primitivos, porque queremos a conservação das instituições e da soberania dos países, e da possibilidade do pensamento livre e crítico, de cada pessoa, no conjunto da sociedade, e não do pensamento direcionado para o júbilo de uns poucos. 

Querem nos fazer de gados, o que não será tarefa difícil, se a juventude, não ler mais, entusiasmar-se somente com os celulares, com os “TikToks”, com “big-brothers”, “reality shows”, com as macaquices de auditórios, com a comunicação simplória das telas – cavernas modernas, onde se projetam somente sombras – com a impossibilidade de olhar nos olhos dos seus amigos e familiares, só interessando o brilho do momentâneo do, “aqui e agora”, sem profundidade para o futuro, sem informação do passado.

Querem nos fazer de gados! Estamos sendo amestrados; buzinas e berrantes que nos conduzem, reses marcadas, com substitutos tecnológicos das pastas químicas, tatuagens, brincos, tintas e ferros quentes. E, não percebemos, alienados e solícitos, subordinados a uma falsa liberdade de pensamento e de manifestação.

Somos gados...



 

terça-feira, janeiro 07, 2025

Um pouco de nada, e isto é tudo.

 


Por Carlos Roberto Husek, professor de Direito Internacional da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional Público e Privado

Escrevo com tinta transparente sobre águas.

A vida líquida transita nas esferas do universo, decantada em pequenos átomos de hidrogênio, onde se encontram as palavras. Do menino sonhador e deslumbrado surgiu o adolescente tímido, e deste, o velho, liquefeito em todas as suas histórias, a olhar o mundo, com as pálpebras caídas e os joelhos em falsete.

Escrevo para não deixar marcas.

Este penúltimo parágrafo, bem poderia ser o resumo de uma vida, de qualquer vida, e o que nos salvaria é a ilusão de que nos ouvem e nos leem, aqueles que nada têm a fazer, a não ser se mostrarem solícitos e compreensíveis, com a solidão das cidades, de paredes cinzas e sol escondido entre prédios.


Escrevo, com traços antigos de escrita indecifrável, garranchos sem significado, lidos pelos elementais, na liquidez dos meios de cada dia.


Este outro parágrafo, bem poderia não existir, e efetivamente não tem qualquer significado, a não ser o arremedo de longínquos espasmos e de uma comunicação sem retorno.
Escrevo com tinta transparente sobre águas. 

E quando ouço as notícias do mundo, mas me convenço que não são escritas nem pensadas, materialmente construídas sob o influxo do inconsciente coletivo, que põe tijolo sobre tijolo, e divulga o que há de ser uma parede, um cômodo, um muro, um palacete, um prédio, um tanque, quem o saberá? Porque a divulgação pelos meios eletrônicos, não forma a imagem completa do que se está a ouvir e do que se está a ver. Os meios eletrônicos são imateriais porque se dissolvem na tela e não guardam qualquer sentido da vida.
Escrevo com tinta transparente sobre águas.

As letras caem, as palavras submergem, e nada restará do pensamento, e nada restará da ação, mas escrevo, imaginando um reino de faz de conta.


2025 é um novo reino. Faz de conta que sabemos ser ele um pós-2024 e um pré-2026, porque tudo é convenção, e todas as convenções, assim como a natureza, se desfazem no pó das horas.

Bom que assim seja, nada devemos ao passado e nada devemos esperar do futuro. Tudo é, e sempre será, presente.

Escrevo para despertar os mortos, que enterremos a cada minuto.

Feliz 2025!