sexta-feira, novembro 09, 2012

Latipac - A cidade e seus espelhos



Goiânia

(destacando Cora Coralina, versos grafados de CoraCoralina quem é você?)


vestido comprido,
      vestido rodado,
na cabeça um pano
             vermelho,
       cabelos presos,
miúdos olhos,
que ela quer,
voltados para
as coisas pequenas,
"...mulher
como outra qualquer"
que vem  "do século
                     passado"
trazendo consigo
"todas as idades",
            Cora Coralina,
      Cora coregem,
Cora vivacidade,
que os becos,
                 os bolos,
       os solos,
as salas, as horas,
os filhos, as filhas
             que adora,
                que cria,
das vilas incriadas,
das pedras irregulares,
            dos gestos,
            dos falares,
            dos diálogos
ao pé do fogo,
            dos cantos,
            dos cantares.

A poesia está no espírito de quem a escreve e vem, seguramente, de outras eras (tese espírita, reencarnação, Jung e o inconsciente coletivo, simples antenas ligadas, não comum aos demais?). 

Os poetas são iguais, embora fisicamente diferentes. Não há efetiva diferença entre o português Fernando Pessoa, andando, com seu terno e gravata pelas ruas de Lisboa, entre Castro Alves, na sombra das Arcadas, entre Vinicius de Moraes, na mesa de um bar com um copo de uísque e um violão, em Copacabana, entre o sorumbático Augusto dos Anjos, no seu espírito Santo ("Eu sou aquele que ficou sozinho/Cantando sobre os ossos do caminho"), entre o sofisticado diplomata Pablo Neruda, bem como entre o amoroso perseguido Garcia Lorca e Cora Coralina, a senhora que com seus vestidos e seus bolos, começou a se fazer conhecida (diamante que sempre lá esteve, no interior de Goiás), a partir de provecta idade (alguns poetas morrem cedo, fulgurantes, outros nascem depois que se foram as glórias da mocidade), mas todos são irmãos da mesma família, provindos de um mesmo espírito unificador, de uma mesma cepa, de uma mesma angústia (toda poesia, mesmo a mais infantil e romântica, a mais política e social sofre da doença da angústia, que é o descompasso entre a realidade vivida nas cidades, nas comunas, nos becos (nos becos de Goiás), e aquele sentimento inexplicável do mundo. 

Todo poeta é um universo que sobrevive, desde as coisas pequenas (formigas) até às estrelas, na grande distância do firmamento. O poeta não tem idade, não tem sexo. O poeta é. 

Carlos Roberto Husek.

Um comentário:

  1. Sandro Augusto Santos Silva9 de novembro de 2012 às 18:22

    “As guerras nascem no espírito do homem”

    A necessidade de emocionar – e se emocionar
    Decorre da condição humana, ouso afirmar.
    E tal emoção advém duma ebulição espiritual
    Reforçando que não seria racional
    Represar tamanha lucidez
    Senão compactuar com a necessidade
    Duma fertilização cruzada e saudável
    Garantindo, enfim, a rigidez dum universo poeticamente desejável.
    Pois poesia não fala, e, sendo emocionante, cala.
    Sandro Augusto Santos Silva)

    São tantas as guerras, são tantos os assombros que a humanidade tem passado ao longo dos séculos, que a palavra paz deve ser sempre lembrada quando se fala em guerra, não como resistência desnecessária, mas talvez como indispensável ao inteiro contato com as polaridades existentes. E Se não houver a paz? Falemos de guerra, e também de paz.

    A instabilidade histórica do direito internacional tem exigido a necessidade de ampliação de seu campo de atuação, pois que ate o inicio do século XX cuidava somente da terra e do mar, surgindo mais adiante a necessidade de regular também a melhor forma de utilização do espaço, a pessoa humana se apresentou como tema central com a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, muito embora as relações de trabalho já estivessem internacionalmente regulamentadas desde a Organização Internacional do Trabalho em 1919. Não negligencio o mais recente tema meio ambiente (dentre outros), a ver pela conferencia Rio+20 realizada no Brasil no inicio deste ano de 2012.

    O ilustre Professor Paulo Borba Casella afirma que “não se pode admitir que somente a força ou a ameaça do uso desta façam mover-se o mundo. O direito internacional pos-moderno responde de outro modo a esse anseio de ordenação e de instauração de patamares de convivência organizada”(in Direito Internacional no Tempo Antigo, p. 301, ed Atlas, 2012)

    Particularmente, comungo com mais um sublime entendimento/ensinamento do Professor Paulo Borba Casella, a quem admito especial apreço intelectual, que afirma num dos seus livros de direito internacional “Ante a impossibilidade, ao menos ate aqui experimentada, de aceitar e por em pratica esse ideal, de construção da paz, como valor positivo, resta tentar esperar que o ser humano possa ser governado pela razão e que o direito possa regular a guerra (...). O estudo do direito internacional deve orientar-se para a paz e não para a guerra, pois esta, em boa medida, será a negação do sentido deste, como da própria vida e da possibilidade de sobrevivência do planeta” (Paulo Borba Casella, Manual de Direito Internacional Publico, p 870).

    Não ouso discorrer sobre a citação. “As guerras nascem no espírito do homem, e é nele, primeiramente, que devem ser erguidas as defesas da paz” (in ob cit, p 870).

    Por ultimo, permiti-me iniciar minhas considerações sobre o tema guerra com uns versos malfeitos, muito em razão, admito, da leitura inicial do texto “Goiânia”, linda poesia. Confundi os temas? Fugi ao debate? Talvez, mas não pude deixar de participar da proposta do Professor Carlos Roberto Husek, que une ação ao sentimento, como versou Vinicius de Morais ao pedir benção a “Carlinhos Lyra/parceirinho cem por cento/que une ação ao sentimento/ e ao pensamento/(Samba da Benção – Vinicius de Moraes e Baden Powell)

    Sandro Augusto Santos Silva

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