Por Carlos Roberto Husek, professor de Direito Internacional
da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional
Público e Privado
Hezbolah,
Ramás, Putin, Netanyahu, Gaza, Líbano, Irã.
Milhares de
pessoas mortas, soldados, civis, velhos, mulheres, crianças, escolas e
hospitais destruídos, artefatos de guerra caindo sobre as cabeças, balas nos
peitos, cérebros em desfazimento, sopas de sangue, pele e ossos, e quem não
morre fica incapacitado para a vida. Um cenário de total destruição!
E aqui, é diferente?
Milhares já morreram no Rio de Janeiro e em São Paulo, e em
algumas cidades e capitais do Nordeste, grupos terroristas de bandidos contra
grupos terroristas de bandidos, e o Estado resolveu entrar na guerra,
Netanyahus e Putins no comando do poder: crime contra crime, “olho por olho,
dente por dente”. Não se pensa em escola, em saneamento básico, em livros, em
professores, em civilidade. Só temos milícias, militâncias, relações
militarizadas, armas aprovadas e difundidas, para os membros bem situados da
sociedade civil, mas desaprovadas para os membros da periferia, que não se
intimidam e furtam e roubam armamentos do exército e das polícias, e dos
“cidadãos de bem”, já que não conseguem armas pelos meios legais. A legalidade
da posse e a ilegalidade da posse de armas, e um único objetivo: matar.
É inquestionável, estamos em guerra interna de uma sociedade
doente divorciada do governo.
Por que será que bandidos e governantes pensam como bandidos?
Qual a diferença? Nós, do Estado, não seguimos a lei, como eles também não a
seguem.
Governar – pensamento antigo – é fazer obras e combater com
força total e liberdade dos “agentes da lei”, para lutar contra o crime, nem
que para tanto tenham que atirar a torto e a esmo, acertando o núcleo da ação
do meliante, ainda que inocentes estejam por perto. Contingência. É a vida! Na
guerra, também morrem inocentes. Contingência. É a vida!
O que se pode esperar de um planejamento governamental que
incentiva as armas e deplora os livros e os grandes escritores, pensadores e
pedagogos, como aqueles que ousaram contrariar a lógica do poder? Nada, a não
ser a continuação da guerra, a formação de um submundo social e a formação de
futuros bandidos, estejam cobertos por capuzes ou que airosamente se mostrem
orgulhosos de suas posições sociais.
Temos os nossos Hezbolahs, Ramás, Putins, Netanyahus, Gazas,
Líbanos e Irãs, estão todos aqui, travestidos de civilização organizada, terra
do samba e do pandeiro, do futebol e das praias, da bondade e da religião!
Das eleições democráticas podem sair vitoriosos, os que têm
discursos de ódio e de domínio, para manter o quadro de organização aparente,
de superficial obediência à Constituição e às leis, e de ataques às
instituições; de desobediência, enfim, ao Estado Democrático de Direito. Com
isso, produzem-se novos líderes e se influenciam novas gerações educando-as
para a permanência do pensamento fantasista, de que “uns nasceram bons, para o
bem, para mandar, e outros para a escória e marginalização social”. “Não dar
pérolas aos porcos”, a estes, só cascas de banana.
A quem interessa a manutenção dos porcos?
A cegueira dos que andam aprumados, não faz com que percebam
que sua condição de tiflose endêmica alimenta as sombras dos esfarrapados, que
sempre os ameaça numa guerra social sem tréguas, e sem objetivo.
A ilusão da aparência social do progresso, é em si, a
gestação do caos. Não há verdadeiro progresso, quando o corpo e o espírito de
todos que vivem no território, não estiverem devidamente nutridos.
O número de mortos no Brasil, corpos desfeitos e espíritos
dissolvidos pela química da incompreensão e do desamor, é bem maior do que as
guerras que acontecem no Oriente médio e nas placas do continente euroasiático,
porque permanentes no tempo e no espaço, como células cancerosas, que se
multiplicam em todo tecido social. Os governantes, médicos políticos, não
avançam na ciência do tratamento social, porque querem manter o hospital
repleto de doentes.
Temos a nossa própria Gaza e a nossa própria Ucrânia.
Até quando?!
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