Por Carlos Roberto Husek, professor de Direito Internacional da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional Público e Privado
Aqui vamos escrever despreocupadamente, das regras formais da
Língua portuguesa e da comunicação científica, porque dentro de nós grita
apenas a comunicação de um momento interpretativo da realidade. Se tal
interpretação é de regozijo ingênuo, não importa: escrevemos para amigos, entre
amigos, mas conscientes de que críticas poderão acontecer e serão bem-vindas,
se pautarem pelo combate das ideias.
Lembramos sempre da frase do poeta “A esquerda e a direita
não são mais questões centrais”. Diríamos, pelo menos, que não deveriam
ser mais questões centrais, diante de um mundo que necessita urgentemente
combater a fome, os desastres do clima, a ignorância, o terrorismo, a soberania
absoluta dos Estados mais fortes no capital e nas forças militares, o
deslocamento em massa de populações inteiras por causa da guerra e da falta de
condições humanitárias.
Queiram ou não, os da chamada direita esquizofrênica e
radical – existem alguns líderes assim, na América do Norte, na América do Sul,
na Europa e no Oriente – independentemente de ser tida como uma pauta de esquerda
(o que não concordamos, pelo seu teor), tivemos uma vitória diplomática
inquestionável, com o G-20, ainda que o mundo passe pelo desassossego de ver
para 2025 subindo no palco internacional lideranças que não entendem o ser
humano como peça principal da política e da sociedade internacional.
Necessitamos urgentemente, enquanto é tempo, afirmar que os
territórios de um Estado, sobre os quais vive um povo acostumado ao dia a dia
de suas vidas, não pode ser invadido, bombardeado, assombrado por mísseis,
conquistado e destruído, eliminando velhos, mulheres, crianças, em nome de uma supremacia
política.
Necessitamos, urgentemente, enquanto é tempo, dizer que o
mundo está cada vez mais repleto de pessoas passando fome, sem o mínimo de
higiene, de água potável, de saúde.
Necessitamos, urgentemente, enquanto é tempo, dizer que no
mundo as florestas estão sendo derribadas, os rios e mares poluídos, a
atmosfera tomada pela degeneração de seus elementos básicos, os terremotos
acontecendo, os furacões e tsunamis dançando sobre os mares e sobre as terras,
provocados pelo homem.
Necessitamos, urgentemente, enquanto é tempo, dizer que a
ignorância e a falta de escolas e de educação estão fazendo da raça humana uma
sub-raça, dominada pelo medo, pelas necessidades físicas, pela escuridão
psicológica, como animais em constante movimentação no planeta, em busca de
alimento e de paz. Nômades do século XXI, cruzando mares, montanhas, rios, sem
planejamento, sem permanência, sem identidade, marginalizados do progresso
econômico e tecnológico.
Somente a inteligência diplomática pode salvar o planeta, e
isso minimamente ficou demonstrado pelo Brasil, ao propor uma “Aliança Global
contra a fome e a pobreza”, a que aderiram, querendo ou não, ainda que
formalmente, Estados de várias concepções ideológicas, das Américas, da Europa
e do Oriente.
Foi mais um simbolismo, é verdade, ainda sem efetividade
prática, que, por certo, a partir do ano vindouro, sofrerá ataques do
radicalismo cego, daqueles que só pensam no domínio econômico e militar, mas
balizou e desenhou na história, uma posição desapegada, um grito de confiança
no equilíbrio do poder e no futuro da humanidade.
Vai ter sucesso a formulação principiológica proposta?
Provavelmente, não do modo esperado, mas uma semente foi plantada, que poderá
germinar!
E isso tudo se deve, à Diplomacia brasileira, que voltou aos
velhos tempos de habilidade e diálogo, construindo consensos, dentro das
opiniões antagônicas.
Não há ufanismo, mas a Diplomacia brasileira tem tudo para
reafirmar o legado do Barão do Rio Branco.
O horizonte pode estar escuro, no entanto uma luz difusa se
apresenta ao seu final e, quem sabe, será possível fazer com que ela se alargue
e ilumine cada vez mais!
Cremos. É o único caminho que nos
resta!