quarta-feira, novembro 20, 2024

Uma vitória da diplomacia brasileira

 



Por Carlos Roberto Husek, professor de Direito Internacional da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional Público e Privado


Aqui vamos escrever despreocupadamente, das regras formais da Língua portuguesa e da comunicação científica, porque dentro de nós grita apenas a comunicação de um momento interpretativo da realidade. Se tal interpretação é de regozijo ingênuo, não importa: escrevemos para amigos, entre amigos, mas conscientes de que críticas poderão acontecer e serão bem-vindas, se pautarem pelo combate das ideias.

Lembramos sempre da frase do poeta “A esquerda e a direita não são mais questões centrais”. Diríamos, pelo menos, que não deveriam ser mais questões centrais, diante de um mundo que necessita urgentemente combater a fome, os desastres do clima, a ignorância, o terrorismo, a soberania absoluta dos Estados mais fortes no capital e nas forças militares, o deslocamento em massa de populações inteiras por causa da guerra e da falta de condições humanitárias.

Queiram ou não, os da chamada direita esquizofrênica e radical – existem alguns líderes assim, na América do Norte, na América do Sul, na Europa e no Oriente – independentemente de ser tida como uma pauta de esquerda (o que não concordamos, pelo seu teor), tivemos uma vitória diplomática inquestionável, com o G-20, ainda que o mundo passe pelo desassossego de ver para 2025 subindo no palco internacional lideranças que não entendem o ser humano como peça principal da política e da sociedade internacional.

Necessitamos urgentemente, enquanto é tempo, afirmar que os territórios de um Estado, sobre os quais vive um povo acostumado ao dia a dia de suas vidas, não pode ser invadido, bombardeado, assombrado por mísseis, conquistado e destruído, eliminando velhos, mulheres, crianças, em nome de uma supremacia política.

Necessitamos, urgentemente, enquanto é tempo, dizer que o mundo está cada vez mais repleto de pessoas passando fome, sem o mínimo de higiene, de água potável, de saúde.

Necessitamos, urgentemente, enquanto é tempo, dizer que no mundo as florestas estão sendo derribadas, os rios e mares poluídos, a atmosfera tomada pela degeneração de seus elementos básicos, os terremotos acontecendo, os furacões e tsunamis dançando sobre os mares e sobre as terras, provocados pelo homem.

Necessitamos, urgentemente, enquanto é tempo, dizer que a ignorância e a falta de escolas e de educação estão fazendo da raça humana uma sub-raça, dominada pelo medo, pelas necessidades físicas, pela escuridão psicológica, como animais em constante movimentação no planeta, em busca de alimento e de paz. Nômades do século XXI, cruzando mares, montanhas, rios, sem planejamento, sem permanência, sem identidade, marginalizados do progresso econômico e tecnológico.

Somente a inteligência diplomática pode salvar o planeta, e isso minimamente ficou demonstrado pelo Brasil, ao propor uma “Aliança Global contra a fome e a pobreza”, a que aderiram, querendo ou não, ainda que formalmente, Estados de várias concepções ideológicas, das Américas, da Europa e do Oriente.

Foi mais um simbolismo, é verdade, ainda sem efetividade prática, que, por certo, a partir do ano vindouro, sofrerá ataques do radicalismo cego, daqueles que só pensam no domínio econômico e militar, mas balizou e desenhou na história, uma posição desapegada, um grito de confiança no equilíbrio do poder e no futuro da humanidade.

Vai ter sucesso a formulação principiológica proposta? Provavelmente, não do modo esperado, mas uma semente foi plantada, que poderá germinar!

E isso tudo se deve, à Diplomacia brasileira, que voltou aos velhos tempos de habilidade e diálogo, construindo consensos, dentro das opiniões antagônicas.

Não há ufanismo, mas a Diplomacia brasileira tem tudo para reafirmar o legado do Barão do Rio Branco.

O horizonte pode estar escuro, no entanto uma luz difusa se apresenta ao seu final e, quem sabe, será possível fazer com que ela se alargue e ilumine cada vez mais!

Cremos. É o único caminho que nos resta!

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