Por Carlos Roberto
Husek – professor de Direito Internacional da PUC/SP e um dos coordenadores da
ODIP – Oficina de Direito Internacional Público e Privado
Há projeções
coletivas e individuais, inconscientes, que fabricam ações parecidas, não
importando a região, a cultura e o tempo. Propagam-se e influenciam as pessoas
dos mais variados costumes e educação, e nada tem a haver com o grau de
instrução e conhecimento político ou esclarecimento sobre a vida e sobre o
mundo. Multiplicam-se.
Acaso ocorram mortes
em uma escola, engendrada por um desajustado, logo outras ocorrerão em outras
escolas, em outros cantos, até em outros países, copiando iguais procedimentos,
como se fossem repetições de um mesmo caso, com personagens diferentes.
A força da maldade
parece ser mais contaminadora do que a dos bons exemplos; as demonstrações de
pureza, de amor, de amizade, de solidariedade e cooperação.
Somos seres
imperfeitos, é certo, mas nossa imperfeição não é só individual e, sim,
coletiva. Na tela que transmite imagens do agrupamento humano, ficamos chocados
e atraídos com as diversas possibilidades de infringência das regras
costumeiras ou escritas e com a repercussão que isso produz e se reproduz.
O absurdo das
atitudes nos emociona, porque confirma o animal, que intrinsecamente nos domina,
e se não houver um ego e um superego alinhados, sofrerá, por certo, a nossa fantasiada
humanidade!
Nos dias de hoje,
tudo é possível: todas as crenças, todas as formas, todos os monstros que nos
habitam, todas as imagens que fazemos de nós mesmos, e que justificamos,
declarando ao mundo a nossa independência, o nosso orgulho, o nosso
autodomínio, e, com isso, construímos um caminho pretensamente único, inseridos
na repetida história dos fatos, que são jogados no ar, como tintas, e se fixam
em manchas, das mais variadas cores, dando colorido à existência.
A individualidade
toma conta e os fatos coletivos desastrosos, incongruentes, “foo fighters”[1],
alimentam o ego, informado e em algumas ocasiões, dominado pelo subconsciente.
Que seres frágeis
somos! Individualidades sem lastro, imitadores de ações coletivas, encantados
pelo fantástico, não só na vida pessoal, familiar ou entre amigos, mas também
na vida pública!
E isso nada tem a
haver com os arquétipos de Jung[2],
que funcionam como argamassas comuns, sobre a qual edificamos – sem
possibilidade de escolha - a nossa estrutura psíquica. Não. O que analisamos
aqui, é um fenômeno que vai do inconsciente para o consciente, ainda que este
seja muito influenciado, sem percepção racional dos acontecimentos.
Daí porque existem tantos
adoradores do diabo, das armas, dos homicídios, dos sacrifícios coletivos, dos
suicídios, das crenças mitológicas, dos discursos de ódio, das revoluções e do
sangue correndo: é o domínio das imagens, que cegam a racionalidade e a
inteligência.
Não é fácil pensar. Não
é fácil ler nas entrelinhas e por trás das palavras. Não é fácil ver o que não
está visível a olho nu.
Olha-se para o
espelho quebrado em várias partes, e o que se enxerga é um pedaço de braço
acoplado a uma cintura, um olho sobre o nariz, uma das mãos sobre o ombro, uma
perna em forma de arco e outra rígida, uma orelha que escapa da testa. O nosso
mundo é um espelho partido, devemos desconfiar do que vemos e das conclusões
que tiramos.
Os heróis são tristes
figuras!
Será que podemos
voar?
[1]
Dizem das luzes que acompanhavam os bombardeios na segunda guerra mundial.
[2]
Arquétipos são conteúdos coletivos inconscientes. Explica Jung: “uma camada
mais ou menos superficial do inconsciente é indubitavelmente pessoal. Nós a
denominamos inconsciente pessoal. Esyte, porém, repousa sobre uma camada mais
profunda, que já não tem sua origem em experiências ou aquisições pessoais,
sendo inata. Esta camada mais profunda é o que chamamos de ´inconsciente
coletivo`” C.G.Jung – Obras Completas, vol. 9/1. Os arquétipos e o inconsciente
coletivo, p.12, 11ª. Ed. Editora Vozes.
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