“A
educação é um ato de amor, por isso, um ato
de
coragem. Não pode temer o debate.”
Paulo Freire
Por Carlos Roberto Husek, professor de Direito Internacional
da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional Público
e Privado
Livros para a Educação de São Paulo, não são mais necessários?
O material digital – tão importante para o mundo moderno –
passaria a ser em São Paulo, em um primeiro momento, o único para a formação
dos alunos, pela Secretaria da Educação e para o atual governador do Estado,
uma vez dispensados os livros fornecidos pelo Ministério da Educação e Cultura.
É inacreditável. Encaminharemos para o sucateamento do ensino
e da cultura, com o único objetivo de ter o domínio de um pensamento único e de
uma visão ideológica do mundo, visto que, mesmo admitidos os livros, eles serão
escolhidos e inseridos no mundo digital.
A UNESCO da Organização das Nações Unidas, voltada para a
Ciência e Educação, recomenda o uso da tecnologia como complemento a outras
estratégias de ensino, nas salas de aula, e não como meio único e principal, o
que aliás se tem lógico, justo, equilibrado e sensato, para a divulgação do
ensino e da cultura. Afinal, a sociedade é múltipla, diversa, composta de raças,
religiões e culturas diferentes.
A escolha de texto, autores, livros, pelas Escolas e pelos
professores, e a possibilidade de ampla pesquisa pelos alunos, é a única forma
democrática, consciente e legítima de transmissão da realidade social e de difusão
da história, da poesia, do romance, da geografia, do pensamento, da compreensão
analítica dos textos; necessária reflexão sobre o que está escrito, e,
portanto, a concretização do efetivo progresso, além da garantia da liberdade
de ensino, de cátedra e de aprendizado.
O computador, a internet, o celular, as aulas, com “power
point” são recursos, assim como o papel, a caneta, o lápis, tudo, enfim, que o
professor pode utilizar, como instrumental para a maior compreensão do que é
transmitido.
Por outro lado, ainda que se admita o material digital –
nunca como único – é necessário garantir a sua diversificação de fontes e de
pensamentos, e o atingimento de todas as camadas da população, porquanto, se
assim não ocorrer, será o domínio de um único entendimento sobre o mundo viável,
sobre a administração e sobre a sociedade, para uma elite eventual. Deve-se
perguntar, portanto, se o material digital que pode vir a ser imposto, sem
consulta a professores, atingirá todos os estabelecimentos de ensino e todos os
alunos indistintamente, independentemente da classe social. E o que fará parte
do conteúdo desse material? Haverá abertura total para o mundo, ou haverá um
direcionamento?
Em plena Era Moderna, séc. XXI, caminhamos cada vez mais no
exercício do poder de poucos, sobre a grande maioria. Não haverá efetivo
progresso, não existirá efetivo espírito público; somente o pensamento egoísta,
raquítico e cego na manutenção das benesses socioeconômicas de grupos
privilegiados.
A tecnologia e a formação digital são fundamentais, desde que
o estudante possa avaliar, de forma criteriosa, os textos que serão inseridos
no meio digital, sem obrigatoriedade e determinismo de uma só via filosófica,
diga-se, nem da direita nem da esquerda.
Do modo, pelo qual está sendo resolvida a questão nessa área;
uma guinada radicalizada para o mundo digital, afastando-se, pura e
simplesmente, os livros e os pensadores, para desenhar apenas um caminho de
divulgação, acabará por implicar em direcionamento filosófico-político, de
efetivo retrocesso social.
Noticia a imprensa, que o Programa Nacional do Livro Didático
– PNLD, recomendou o uso da tecnologia como complemento, e com base nesse
programa o MEC comprou livros didáticos para todas as escolas públicas do País,
não sem antes a devida avaliação.
O que move, efetivamente, a administração do Estado?
Infelizmente a desconfiança dos motivos, nos deixa cismados, tendo em vista as
diversas manifestações e atos administrativos, em todos os setores, contra os
direitos humanos, a favor das armas, das escolas militares, das elites, e
outros, que se revelam divorciados do povo.
O material digital divorciado dos livros é um Alzheimer
educacional, um transtorno neurodegenerativo digital, progressivo, que deve e
pode ser evitado.
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