Por Carlos Roberto Husek – professor de Direito Internacional
da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional
Público e Privado
O caso não é simples, historicamente, mas temos a convicção
de que o governo da Venezuela não age de acordo com os ditames internacionais:
1.
Essequibo
é um território em disputa desde o final do séc. XIX.
2.
A
Venezuela alega que o território lhe foi tirado em 1899, por uma sentença
arbitral.
3.
A
sentença arbitral é produto de um diálogo, e na verdade Mediação dos EUA, da
Venezuela e do Reino Unido, que concordaram em respeitar o resultado da
arbitragem internacional.
4.
A
Guiana alcançou a independência do Reino Unido, desde 1966.
5.
O
idioma falado, na parte reivindicada, é o inglês.
6.
Em
2015 houve declaração de ter sido encontrado petróleo na costa da Guiana, além
da área possuir reservas de diamantes, ouro e bauxita.
O que se pode esperar
de Maduro, o homem que na morte de Hugo Chaves – outro ditador - falou para o
povo que tinha recebido o espírito do morto e este dissera como devia governar
a Venezuela?
O que se pode esperar
de um homem que fecha o Congresso, persegue os juízes da Suprema Corte e só
pensa no poder?
O que se pode esperar
de um ditador que compra armamentos da Rússia e se vangloria de seu domínio?
O que se pode esperar
de alguém que à frente de um país da América Latina contraria os princípios e
regras internacionais e deu razão a Putin na invasão da Ucrânia?
O Presidente Lula
criticou a possibilidade de um conflito. É pouco, é muito pouco. Devíamos dizer
que não apoiamos a invasão da Guiana pela Venezuela, e não só proteger o nosso
território, como declarar, nosso inconformismo e dizer em alto e bom som, que Maduro
não tem o nosso apoio, e se possível, ir em todas as frentes, política,
diplomática, econômica, social, contrariando este absurdo geográfico-político
de expansão do poder.
O histórico não
justifica, pois a Espanha, por exemplo, poderia reivindicar o território da
Venezuela, que antes era dela e Portugal reivindicar o território do Brasil, em
igual argumentação, e todos os países colonialistas reivindicaram suas
respectivas colônias. Todos os países do mundo estariam na berlinda das
reivindicações históricas e sociológicas pelos ditadores de plantão.
O plebiscito feito na
Venezuela, com o voto de apoio ao sonho de domínio do ditador, não tem nenhuma
validade jurídica internacional. Os governos ditatoriais quando fracassam
internamente, empunham a bandeira do nacionalismo e do orgulho, para
sobreviver, isto aconteceu com Hitler na Alemanha, na Argentina com os generais
da ocasião, dentre outros.
É “uma bola de neve”: a Rússia invade a
Ucrania, país soberano (não importam os motivos); Israel arrasa a faixa de
Gaza, em um contra-ataque ao Hamas, (que não representa a Palestina) em
represália à invasão territorial feita pela organização terrorista (que deve
ser combatida), e em comando das ordens de um Primeiro-Ministro da direita
radical. Claro que Israel tem o direito de se defender, mas teria o direito de
atacar e matar? E a Palestina continua sem ser um país! Esta delimitação
territorial, com respeito à soberania Palestina, seria a única solução possível
para a paz, e para afastar a hegemonia do grupo terrorista, (o mundo
internacional reconhece isto, porém, não tem força para impor a solução
pacificadora, porque a ONU, dominada por interesses vários, se mantém apática).
Interesses políticos e econômicos falam mais alto. E, embora todos os países
civilizados, se posicionem contrários à Rússia, Putin apoia a guerra Israel X Hamas,
em consonância com o princípio da defesa do Estado invadido! A soberania vale
em um caso e não vale em outro?!
A China continental já
faz movimentos para uma futura anexação da Ilha de Formosa. Os governantes
querem cada vez mais poder!
É a primeira ameaça
bélica na América do Sul, desde 1991, e a simples declaração do Brasil, de que
“a América do Sul não precisa de confusão”, desconhece a integridade de um país
soberano!
Não “é preciso que o
bom senso prevaleça do lado da Venezuela e da Guiana” (outra declaração do
governo brasileiro). É necessário e urgente que o bom senso e o respeito às
regras internacionais prevaleçam do lado da Venezuela e não da Guiana, na iminência
de ser invadida.
É claro que a posição
do governo brasileiro deve ser política e diplomática, mas não podemos admitir
a quebra dos princípios internacionais.
Vamos aqui fazer um
referendo e declarar que o Paraguai e o Uruguai são nossos?
O Direito
Internacional está posto contra a parede, ou temos Cortes Internacionais – Corte
Internacional de Justiça, Tribunal Penal Internacional – ou temos a arbitragem
e mediação internacionais e as instâncias diplomática, bem como a atuação da
ONU e de vários organismos internacionais, firme na concretização dos
princípios e regras internacionais, ou não temos nada, e o mundo será do mais
forte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário