Por Carlos Roberto Husek, professor de Direito Internacional
da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional
Público e Privado
Vamos a uma pequena história de coragem, aceitação, raça, persistência,
de superação das agruras do tempo e do espaço, de amor, entrelaçada com os
poemas que contabilizam a alma, individual e coletiva:
Dom Henrique cismou, queria porque queria, conquistar o Cabo
Bojador, lugar inóspito, perigoso, por causa de uma grande restinga de pedra
que dele sai ao mar mais de 4 ou cinco léguas, onde se perderam navios e vidas.
Era inabitável, lá para os idos de 1400. Dom Henrique enviou 15 expedições e
todas fracassaram; por último confiou a um dos seus mais fiéis escudeiros, em
1434, Gil Eanes, a missão de vencer o Bojador, e este retornou derrotado, mas
Dom Henrique não desistiu e exigiu que Gil tentasse novamente – com perdas de
vidas, de dinheiro, de equipamentos – e, depois de muita luta e de rotas
diversificadas, foi conquistado. Daí nasceu o lema “navegar é preciso, viver
não é preciso”[1]
Pergunto-me: Por que se luta tanto, às vezes por nada? Acho
que não importa a causa, luta-se e pronto!
No poema Mensagem de Fernando Pessoa, há referência ao
Bojador e à vida:
“X – Mar português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
...................................................
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor (grifos nossos)
Deus do mar, o perigo, e o abismo deu,
Mas nele é que estabeleceu o céu.”
E na composição de Caetano Veloso:
“O barco!
Meu coração não aguenta
Tanta tormenta, alegria
Meu coração não contenta
O dia, o marco, meu coração
O porto, não!...
Navegar é preciso
Viver não é preciso (2x) (grifos nossos)
O barco!
Noite no teu, tão bonito
Sorriso solto perdido
Horizonte, madrugada
O riso, o arco da madrugada
O porto, nada!...
Navegar é preciso
Viver não é preciso (2x) (grifos nossos)
O barco!
O automóvel brilhante
O trilho solto, o barulho
Do meu dente em tua veia
O sangue, o charco, barulho lento
O porto, silêncio!...
Navegar é preciso
Viver não é preciso (6x) (grifos nossos)
Mais uma vez Pessoa em Tabacaria:
“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.” (grifos nossos)
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