terça-feira, agosto 06, 2024

A falácia da Democracia formal

 


Por Carlos Roberto Husek, professor de Direito Internacional da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional Público e Privado

 

 

“Os acontecimentos me aborrecem, são a espuma das coisas, o mar é o que me interessa.” (Albert Camus)

 

Para saber se a eleição na Venezuela foi ou não fraudada, haveria necessidade de verificar atas e os atos formais da eleição!?

Espumas.

Nicolás Maduro é um ditador, que controla o parlamento, a magistratura, o exército, e todos os órgãos públicos. Deixou formalmente acontecerem as eleições, sob suas vistas e sob seu total controle.

Espumas.

Perseguiu opositores, prendeu oposicionistas, não permitiu a divulgação plena de suas pautas, terminou a apuração dos votos antes de seu efetivo final, controlou os apuradores e a divulgação, mas foi eleito em eleições formalmente livres.

Espumas.

O Brasil e o mundo estão cansados de saber, Nicolás Maduro é um ditador sul-americano, que controla a tudo e a todos e ainda faz pouco caso da comunidade internacional, só querendo afagos e aplausos de outros ditadores e de candidatos a tiranos, e de eventuais aliados, não se importando com a opinião mundial nem com os órgãos internacionais, e muito menos com o Mercosul.

É incrível como a ideologia, esquerda ou direita, têm pouco a ver com tudo isso, revelam-se somente como caminhos de tomada do poder, porque os ditadores não possuem cor, somente se atrelam ao poder.

Maduro é da esquerda? Não, é simplesmente um ditador.

Vivemos em um mundo de espumas, que não revelam o mar e a sua profundidade.

O Brasil ainda observa?! Observa o quê? Sofremos tentativa de golpe em 8 de janeiro, alguém se lembra? E, agora, hesitamos, desconstruímos as narrativas, para entender que tudo que acontece no país vizinho (fome, economia sem rumo, falta de instrução, instituições falidas, inexistência de diálogo e democracia, golpes de Estado a cada suposta eleição, perseguições políticas) pode ser normal!

A diplomacia tem suas próprias regras e suaviza os acontecimentos, mas tem limites e/ou modos de condenar ações contrárias à democracia e aos direitos humanos, sem abrir frentes de batalha: questão de habilidade e inteligência.

As eleições na Venezuela não tiveram nada de grave?! A ideologia justifica?

Os perdedores da eleição, se insatisfeitos, podem apelar para o Judiciário? Um Judiciários independente e isento, não subordinado a Maduro?

Espumas.

O povo venezuelano necessita tomar calmantes diários (se tiver água potável), para aguentar.

Espumas.

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