Em maio de 1995
FHC era recebido, como outros presidentes brasileiros já o foram e serão, pelo
então presidente dos EUA, o democrata Bill Clinton. Nos Diários, FHC registrou
a fala de Clinton num encontro privado entre os dois: “O que posso fazer
para te ajudar? Que posso fazer para ajudar o Brasil? O que nós podemos fazer
juntos?”. Uma conversa bastante amistosa, termo usado mesmo por FHC para
esse registro. Cinco anos depois, o presidente dos EUA era o republicano George
W. Bush, e os registros de FHC continuam mostrando boas conversas entre ambos
(ainda que seja notória a amizade entre Clinton e Fernando Henrique), a ponto
de Bush procurar o então presidente brasileiro até para auxiliá-lo em assuntos
que não dizem respeito ao Brasil ou à América Latina, como o relatado nos
Diários em abril de 2000. Bush, na ocasião, ligou a Fernando Henrique para
solicitar que este, que receberia o presidente da China em viagem ao Brasil,
intercedesse a favor dos EUA em questão diplomática sensível – na ocasião, um
avião espião norte-americano se chocou, sobre o Mar da China, com um caça
chinês, causando a morte do piloto do caça e a detenção, pela China, da
aeronave e dos 24 tripulantes norte-americanos até que os EUA se desculpassem.
Bush explicava a FHC que já havia se desculpado e solicitava que este
explicasse isso ao presidente chinês.
Hoje, passados
20 e 25 anos destes momentos, alguém imagina o mesmo ocorrendo? Tem o Brasil
ainda o mesmo respeito diplomático, a ponto de não apenas o competente e
profissional corpo diplomático brasileiro mas o próprio presidente da República
ser relevante a ponto de ser invocado a ajudar internacionalmente em questão
que, em absoluto, envolve o Brasil? Infelizmente a resposta é um público e
notório não.
A diplomacia
presidencial, ou de cúpula, não é naturalmente a diplomacia profissional que as
relações internacionais entre os Estados demandam, nem se espera que o chefe de
Estado seja sempre o mais hábil diplomata. Porém, enfraquece e muito o corpo
diplomático de um Estado quando há, por parte do chefe do Executivo ou o
Ministro das Relações Exteriores, uma contaminação de desejos pessoais na própria
representação internacional da nação. Foge não apenas aos manuais do Direito
Internacional e da diplomacia mas ao manual prático do bom senso em si.
Ainda FHC: “procurei
imprimir à política externa a prevalência de nossos interesses, mantendo boas
relações com todos, sem sublinhar diferenças ideológicas ou preferências
pessoais. Nisso fui ajudado por Felipe Lampreia e por Celso Lafer, bem como por
vários de seus colaboradores”.
O relato em
primeira pessoa sempre é parcial. Mas a cada dia que passa fica claro que o
maior feito da atual presidência será lustrar a biografia dos seus antecessores,
sejam quais forem.
Bibliografia
CARDOSO,
Fernando Henrique. Diários da Presidência – volume 1 (1995-1996). 1ª
edição. São Paulo, Cia das Letras, 2015.
__________________________
Diários da Presidência, – volume 4 (2001-2002). 1ª edição. São Paulo,
Cia das Letras, 2019.
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