sexta-feira, junho 20, 2025

À sombra dos castiçais

 


Por Carlos Roberto Husek, professor de Direito Internacional da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional Público e Privado

“Ilusão que a minha alma coitada, hoje em dia de ilusão é que vive, é chorando minhas glórias passadas, é carpindo uns amores que tive”
                                                                                                 Casimiro de Abreu


A vida dita real, a que nós enxergamos, é um castelo construído com cartas marcadas pelo egocentrismo humano, de algumas poucas cabeças que dominam o mundo.
Os mundos políticos, o militar, e mesmo o jurídico, que contornam o primeiro, fazem do dia a dia o que ele é, uma ilusão que se traveste em realidade, a ponto de pensarmos —pelo menos nós, acadêmicos e idealistas— que, tudo não passa de uma imagem social construída sobre o deserto de nossas intenções.

Qual a realidade, da guerra entre a Rússia e Ucrânia, que começou com o ataque da Rússia —e todos se esquecem disso, pois transformaram a guerra, sem qualquer obtenção de paz, por exclusiva culpa da Ucrânia— que foi a que teve seu território atacado, contrariando todos os princípios e regras internacionais?

Qual a realidade da guerra de Israel e Palestina e de Israel e Irã, em que o início e o meio parecem também terem sido absorvidos pelo tempo, entre mentiras narrativas e crenças de ordem jurídica e social construídas ao sabor dos governantes e seus generais?
E todas as nossas forças policiais e todas as interpretações jurídicas e todos os conteúdos jornalísticos vivem e gastam rios de dinheiro em torno desses fatos!

O que fazer da vida comum, que deve ser vivida, com estudo, trabalho, desejos, família, ambições profissionais, saúde; o chamado bem-estar social, dever de todo Estado?
Ilusões. Vivemos delas e a única realidade que importa é aquela vemos, com os nossos olhos mortais, ávidos de drama e de violência.

Pois é, também perco meu tempo com tudo isso!


segunda-feira, abril 14, 2025

Protocolo de Quioto, Acordo de Paris, COP 30, eventos climáticos e nossa responsabilidade de eleitores e de eleitos

 


Por Carlos Roberto Husek, professor de Direito Internacional da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional Público e Privado

Está na hora de nós, cidadãos, termos responsabilidade pela eleição daqueles em que votamos.

Lembro que o ex-presidente, que ora pede anistia pela condenação dos atos de 8 de janeiro, entendia por bem seguir de olhos fechados o que dizia e fazia o Presidente dos Estados Unidos Donald Trump, incluindo, entre outras coisas, a retirada do país do Acordo de Paris, sob o argumento simplista de que o que era bom para os EUA, era bom para o Brasil.

Reeleito Trump, novamente, sem explicação cientifica e juridicamente convincentes, salvo a explicação econômica e monetária de vantagens para os norte-americanos, cumpriu a promessa de campanha, de retirar os EUA do referido Acordo.

Breve explicação:
O mundo reuniu-se em Paris, pela COP 21, em encontro ambiental de 2016, com assinaturas de 195 países, para comprometerem-se em reduzir os gases de efeito estufa na atmosfera, porque tais gases tendem a acabar com a vida na Terra, isto é, em todo o globo terrestre, incluindo os Estados Unidos.

Os objetivos básicos do Acordo de Paris, que substituiu o Protocolo de Quioto, de 2005 são:
. assegurar que o aumento da temperatura global fique abaixo de 2 graus na escala Celsius;
. aumentar a capacidade de adaptação aos impactos e resiliência do clima;
. criar um fluxo financeiro que controle a emissão de gases de efeito estufa.

O Brasil ratificou o Acordo em 21.09.2016, e desde então busca cumprir as metas propostas, que não depende só da soberania nacional, mas da cooperação dos demais países, principalmente daqueles com maior potencial econômico e que produzem muito mais o gás indesejável.

Nossa meta é a de reduzir os gases em 37% até 2025 e de 43% até 2030, para tanto devemos combater o desmatamento, providenciar práticas sustentáveis para a agricultura e promover energias limpas.

Ao que parece o Brasil está fazendo um esforço incomensurável para alcançar tais objetivos, mas é fato que os países que não aderiram ao referido Acordo, que representa uma consciência mundial, necessária para a sobrevivência da espécie humana, podem inviabilizar os objetivos do Acordo.

Em tese, todos estão (menos alguns irresponsáveis – esperamos que o Brasil nunca entre nessa lista) se preparando para a chamada “pegada ecológica” e para a chamada “pegada de carbono”, que nada mais são do que uma medição da quantidade de áreas produtivas de terra e mar para gerar os recursos que consumismo e absolver os resíduos que produzimos (pegada ecológica), bem como medir as emissões de gases de efeito estufa gerado pelas atividades cotidianas de uma pessoa, de uma empresa, de uma organização, de uma sociedade, para saber as toneladas de gás carbônico que é jogado na atmosfera por ano (pegada de carbono). Existem métodos para tanto e existem possibilidade de, mesmo sem saber os métodos, evitar o máximo possível tais procedimentos danosos e fatais à raça humana, como aqueles já descritos em parágrafo anterior.

É inacreditável como todos nós, do planeta, podemos perecer diante da irresponsabilidade de poucos!

Estamos na época da cooperação mundial, hoje infelizmente voltada apenas para os “tarifaços” estabelecidos por Trump, que não deseja um planeta saudável e não deseja o comércio multilateral nem a diplomacia, mas apenas o domínio total e completo sobre as pessoas e os bens.

Claro está que, o Brasil, independentemente da ideologia partidária, não pode se curvar a tais irresponsabilidades. Nossa Constituição Federal não o permite, e as Convenções internacionais que assinamos, também não nos permite. Basta a quem for eleito, democraticamente, para os cargos do Executivo e do Legislativo, tenha essa consciência e antes de quaisquer injunções político-partidárias, se comprometa com o Estado Democrático de Direito e com a nossa histórica participação cooperativa internacional.

A COP 30, que será realizada em Belém do Pará – 30ª. edição da Conferência das Partes, países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC), tem como objetivo discutir questões relacionadas ao aquecimento global e às mudanças climáticas, principalmente no que se refere ao financiamento climático, à Justiça climática e às transições energéticas.

O Brasil, presidirá essa reunião, e é mais um passo para a nossa participação responsável para o concerto mundial.

A esperança, dizem, é a última que morre, mas ela pode agonizar perigosamente e evoluir para a morte!


segunda-feira, março 31, 2025

À guisa de entendimento da ordem jurídica

 


Por Carlos Roberto Husek, professor de Direito Internacional da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional Público e Privado

Vamos refletir, anistia não pode ser, pura e simplesmente um perdão para isentar de punição todos que infringiram a ordem jurídica, independente de seus crimes, e das consequências deles resultantes.

Não se pode, simplesmente, “passar uma borracha no passado”, quando este passado está tão presente e representa, de certa forma, por suas ideias e líderes, um crime permanente e continuado.

Perdoar é humano e revela uma proximidade com o divino, quando os eventuais perdoados se mostrarem conscientes.

A Democracia, a ordem jurídica, a Justiça e a sociedade podem pagar um preço irreparável pela tolerância, quando em jogo as próprias instituições criadas pela Democracia, embora o perdão seja sempre uma possibilidade humana de prática fundamental

Qual a defesa da Democracia?

A ordem jurídica, em um Estado Democrático de Direito, deve ser suficientemente forte, com juízes íntegros, parlamentares idôneos e administradores preocupados com o povo para, ainda assim, dar oportunidade aos que erram e abrir diálogo com aqueles que enxergam o mundo por prismas diferentes.

Algum país alcançou este patamar?

Observe-se que há casos em que países conhecidos pelos ensinamentos na defesa de princípios republicanos, podem eleger líderes que desejam, em pleno séculos XXI conquistas territoriais e buscam mudar a própria geografia do mundo hoje baseada na soberania dos Estados e em fronteiras previamente traçadas, não levando em conta os princípios da paz e da não intervenção em outros países!

É uma luta constante, diuturna, incansável porque os próprios líderes e pensadores ficam na dúvida como proceder. Os instrumentos que têm aqueles que pensam com humildade e duvidam dos caminhos imaginados, são constituídos de ideias, pensamentos, incredulidades, e não de armamentos preparados para a guerra O mais forte, em um primeiro momento, sempre vence: a verdade do diálogo e da democracia demora anos para se concretizar.

Não há dúvida que o Judiciário tem lá os seus erros – qual instituição que não sofre de erros, se constituídas de seres humanos? -, mas há que se reconhecer que magistrados, que decidem com fundamento na Lei Maior, têm coragem essencial para aplicar a lei e para manter a ordem jurídica, e são as colunas que sustentam a Democracia.

Parece haver uma onda social, que de tempos em tempos ultrapassa os limites do razoável, e a sociedade pode aparentar regredir e sucumbir ao que há de pior, para reagir e depois reafirmar valores maiores, reconhecidos como fundamentais para o progresso do indivíduo e da coletividade. No entanto, poderá vir a aplaudir novos fatos amparados pela nova (velha) religião política de domínio!

O que fazer?

Combater sempre, resistir sempre, ainda que isto se transforme em doença estressante e quase sem fim. Na verdade, ao final, cremos que mesmo a passos pequenos, alguma evolução mínima existirá, porque a sociedade humana já saiu, em grande parte, da escravidão, da morte do inimigo e da vingança, para um patamar de argumentos e de ideias, ainda que eivadas de desinformação. Já é um progresso!

Vamos lembrar aqui alguns artigos da Constituição Federal – nossa bíblia -, “Artigo 1º. que estabelece: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; Parágrafo único. Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.” 

Artigo 3º. “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:” “I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;” “II – garantir o desenvolvimento nacional; “III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;” “IV – promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.” 

“Artigo 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:” “I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;” “II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;” “III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano e degradante;” “XVI – todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido o prévio aviso à autoridade competente;” “XVII – é plena a liberdade de associação para fins lícito, vedada a de caráter paramilitar”. “Artigo 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante.” 

O artigo 17. “É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos;”

“Par. 4º. É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar.”

Tem outros artigos fundamentais, como é possível sempre lembrar. Entendemos que se deva ler a nossa Constituição Federal com os olhos das primeiras letras, olhos que descobrem as primeiras lições e se entusiasmam com as novas descobertas; e que se deva, depois, esmiuçá-la, decompô-la em suas partes, com os olhos de um cientista que em seu laboratório jurídico decifra a essencialidade do ordenamento que dela deriva.

Não se diga que a Constituição Federal de 1988 é perfeita, mas é obra do tempo e de uma sociedade, e tem virtudes que podem ser identificadas e dimensionadas, na esfera da Justiça e do Direito.

Tê-la ao lado da cama, antes de dormir, para uma leitura básica, pode ajudar a melhor entender os valores em jogo que se acomodaram nos seus artigos, itens e parágrafos.

Boa leitura a todos!

segunda-feira, fevereiro 24, 2025

Inépcia das falas e dos escritos e de seus componentes no exercício da liberdade, como justificativa de um inexistente golpe de Estado

 


Por Carlos Roberto Husek, professor de Direito Internacional da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional Público e Privado

Não se trata, este aqui, de um texto técnico, mas de reflexões de fatores técnicos utilizados nos discursos, aleatoriamente, para firmar o exercício da liberdade e da defesa democrática.

Na verdade, na vida política, cada um diz o que quer e justifica como pode, para alcançar seus desideratos.

Uma petição é inepta quando há falta de pedido e ou de causa de pedir, quando não há narração lógica dos fatos, quando o pedido se mostra juridicamente impossível, quando existem pedidos incompatíveis, e nesses casos, e outros, o juiz não a considera apta para o prosseguimento da demanda.

Será esse o caso da denúncia feita pelo Procurador Geral sobre os fatos de 8 de janeiro, da chamada tentativa de golpe de Estado?

Baseou-se o Procurador em narrações fantasiosas e toda denúncia firmou-se apenas no depoimento de uma delação premiada?

A tentativa de golpe não é golpe e, portanto, não é crime; mas se o golpe fosse consumado, não estaríamos diante de uma nova ordem jurídica estabelecida, por golpe sobre a ordem anteriormente existente? Nesse caso, a ordem jurídica atual e a democracia estabelecida pelo Estado, deveria esperar o sucesso do eventual golpe ou deveria estar preparada para a defesa do Estado e de suas instituições?

Quando as opiniões atingem os próprios princípios constitucionais e a própria ordem jurídica do Estado, incitando pessoas e grupos a agirem não há defesa possível? Tratar-se-ia de simples exercício de liberdade individual e coletiva?

Hitler exerceu com plenitude sua liberdade de agir contra o Estado e contra os judeus, provocando a 2ª. Guerra Mundial!

A história contada pela denúncia (e qualquer petição ou ato judicial, aptos, baseiam-se em histórias, com começo, meio e fim), pelo que observei tem lógica narrativa e tem provas dos atos ocorridos, também foram amplamente demonstrados pela mídia falada, escrita e televisiva, com depoimento dos próprios envolvidos.

Diminuir o tempo de inelegibilidade, por uma lei que foi gerada por reivindicação da sociedade, só para favorecer objetivos políticos, não pareceria a todos nós, mesmo para aqueles com pouca leitura e discernimento, algo antidemocrático, ilegítimo e, provavelmente, inconstitucional?

É possível dar anistia para grupos interessados que depredam patrimônio público, aliciam vozes de comando, subvertem a ordem posta, buscam planejar a eliminação do Presidente eleito, do Vice-presidente e de um Ministro do Supremos Tribunal Federal, para que depois de anistiados voltarem a planejar outras iguais tentativas?

Ser de direita não é uma pecha, assim como não o é ser de esquerda, a mácula está na utilização dessas bandeiras para perpetuação no poder, porque, salvo engano, nenhum desses caminhos fundamenta-se, validamente, na supressão de direitos e na derrubada das instituições. Em muito países a direita vence as eleições e busca administrar o Estado e suas instituições com um olhar diverso da esquerda. Não se busca, em princípio, a quebra da ordem jurídica, que convive com a diversidade de opiniões e planeja vencer essa diversidade, com argumentos e não com a força militar; no entanto, se o faz em algum discurso ou arrazoado escrito ou oral, na verdade, está utilizando de frases e palavras de ordem para fazer aflorar o inconsciente primitivo do domínio e da submissão.

Não se desconhece que existem teorias que justificam tudo, mas quase sempre escondem vetores dissimulados de apreço ao poder e à própria imagem. Há um narcisista escondido em cada ditador, que só admira o próprio reflexo e só considera amigos os bajuladores.

Estamos longe da Democracia, porque dos porões do inconsciente coletivo ainda surgem os espíritos que espalham os seus próprios e inconfessáveis atavismos e os seus fétidos propósitos.

Precisamos nos proteger dos argumentos falsos e dos objetivos escusos. Não é sempre fácil identificá-los, mas a vigilância crítica é um exercício, que deve ser aprimorado, com a desconfiança inicial sobre tudo o que se diz ou o que se escreve.

A liberdade de agir e de opinar passa pela conscientização da vida e dos relacionamentos.

Vamos abrir os olhos e os ouvidos!


quarta-feira, fevereiro 05, 2025

Mania Lupina ou...

 


Por Carlos Roberto Husek, professor de Direito Internacional da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional Público e Privado


No prefácio do livro “O Reino deste Mundo”, de Alejo Carpentier, escreveu este, citando a obra “Os Trabalhos de Persiles e Sigismunda” – “...Entender-se-á com isso de se transformarem em lobos que existe uma enfermidade à qual os médicos chamam mania lupina...” 

Quem possui essa enfermidade quer sair à noite, pensa transformar-se em lobo, buscar sepulturas, uivar, vociferar. Acho, na verdade, que não é o caso de alguns presidentes eleitos e/ou que desejem, em futuro não distante, se elegerem, embora ajam na sombra e quando descobertos venham a mostrar a verdadeira face, peluda e animalesca.

Talvez fosse o caso de narcisismo, em que a libido e o eu confundem-se, em determinados momentos: “eu sou grande”, “eu sou bonito”, “eu me amo”. “eu me admiro”.

Elisabeth Roudinesco, em seu “Dicionário de Psicanálise”, esclarece, no item sobre “Narcisismo” que: “Desde sua chegada ao poder, Adolf Hitler (1889-1945) aplicou a doutrina nacional-socialista (ou nazismo), da qual um dos objetivos principais era a eliminação de todos os judeus da Europa como ´raça inferior`. Do mesmo modo, ele procurava livrar-se das demais ´raças inferiores`, de todos os homens considerados ´tarados` ou incômodos para o corpo social. Assim, a homossexualidade e a loucura foram tratadas pelo nacional-socialismo como equivalentes da judeidade, tudo isso com base na teoria da hereditariedade-degenerescência.” (Jorge Zahar Editor, 1988, p. 533).

Guardados os devidos fatos e proporções, para alguns, os pretos, homossexuais, palestinos, latino-americanos, imigrantes e outros (cada classe dominante e em cada país tem sua lista), são indesejáveis para constituir a pureza da nação e da raça. Também, não sei se seria o caso, mas existem semelhanças, com o que acontece no mundo atual com alguns líderes que desenvolvem uma comunicação misógina, racista, exclusivista e anticientífica de domínio!

O rei, no entanto, pode estar nu!

Vejo-os a todos - os semelhantes, e muitos os há -, sentados em seus tronos, cercados de vassalos e cobertos de tesouro, mas nus!

Lobos solitários e que, em alguns momentos, olham-se no espelho admirados da própria imagem e que tomam a resolução, assim que acordam, de conquistar o mundo.

O mundo do dinheiro em torno desses pobres conquistadores garantem todas as ilusões, enquanto eles próprios com o exercício do poder garantirem o espaço para esse mesmo mundo. 

Quem afinal domina quem?

Existem muitos lobos e narcisos escondidos nos travesseiros de suas próprias camas, que ao despertarem uivam e dançam diante da própria imagem, mas não enxergam o deserto em que se encontram, só vislumbram o oásis inexistente. 


terça-feira, janeiro 14, 2025

Século XXI, século do regresso social – somos gados

 



Por Carlos Roberto Husek, professor de Direito Internacional da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional Público e Privado


Vladmir Putin querendo reeditar a velha União Soviética, atacando os vizinhos e buscando anexar a Ucrânia!

Kin Jong-um, ameaçando a Coreia do Sul e o mundo com bomba atômica e se unindo a Putin, para conquista de territórios!

Yoon Suk Yeol, entendendo que um regime de força – Lei marcial – na Coreia do Sul (Democrata!), é o melhor caminho para o progresso!

Benjamin Netanyahu, com estratégias para “dizimar o povo palestino!

Donald Trump, manifestando a sua vontade de mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América (do Norte, bem entendido...), observando que o Canadá poderia ser o 51º. estado norte-americano, também propondo a anexação da Groelândia e do Canal do Panamá!

Nicolás Maduro, afirmando-se contra todos os resultados eleitorais (eleições meramente formais, após afastar os opositores, Marina Corina Machado e Edmundo González), escolher os membros da Suprema Corte e do Conselho Eleitoral, subordinar o Parlamento e revelar o desejo de conquistar Essequibo, por invasão territorial, na Guiana!

Xi JinPing, determinou o seu projeto político de reunificar a China antiga, anexando Taiwan – Ilha de Formosa, China Democrática – ao território da China Comunista continental!

Pelos menos sete conhecidos e desastrosos dirigentes, apoiados ou não pelos seus específicos povos, mas garantidos pelas respectivas forças armadas e política, querem transformar a geografia do mundo, para os seus desígnios pessoais. Em alguns, era de se esperar que o fizessem, em outros, democraticamente eleitos e com uma história republicana de princípios constitucionais, nos surpreenderam, como eleitos para cargos presidenciais e de ministério, conseguiram divulgar ideias e planos de domínio e de absoluto poder!

A desinteligência domina e o que pensávamos nunca mais ver no mundo, após 1945, está perigosamente tornando-se realidade. Rasgam-se as Constituições, as Declarações Universais de Direitos Humanos, a Carta da ONU, as Cortes Internacionais, os princípios baseados na soberania dos Estados, para dar milhares de passos atrás na História.

As instituições criadas pelo homem, com sentido universal, coletivo, de progresso, paz, respeito, liberdade de manifestação, estão sendo enterradas, em uma Era, que talvez, venha a ser conhecida como a Era da Involução Social.

A tecnologia não nos ampara e não é parâmetro para a evolução da humanidade. Ao contrário, na esteira desses fatos, propostos pelos líderes do mundo, à esquerda ou à direita – esquerda e direita não existem mais! – se apoiam na comunicação dos “whatsapps”, “emails”, twitter, facebook, e outros do mundo da inteligência artificial para o domínio tão antigo como o do homem das cavernas!

A falácia da Liberdade de manifestação sem controle, impõe ao ser humano comum, cidadão de um Estado, a ditadura dos que estão no poder e querem mantê-lo para a eternidade.  

Mark Zuckerberg, dono da empresa mãe Meta Plataforma do Facebook, junta-se a Elon Musk, que ora se tornou secretário de Trump, para proclamar a liberdade total de opinião, sem qualquer restrição institucional, para consolidar o poder de Trump, nos Estados Unidos e, se possível, no mundo.

E todos nós, que somos contrários, passamos por primitivos, porque queremos a conservação das instituições e da soberania dos países, e da possibilidade do pensamento livre e crítico, de cada pessoa, no conjunto da sociedade, e não do pensamento direcionado para o júbilo de uns poucos. 

Querem nos fazer de gados, o que não será tarefa difícil, se a juventude, não ler mais, entusiasmar-se somente com os celulares, com os “TikToks”, com “big-brothers”, “reality shows”, com as macaquices de auditórios, com a comunicação simplória das telas – cavernas modernas, onde se projetam somente sombras – com a impossibilidade de olhar nos olhos dos seus amigos e familiares, só interessando o brilho do momentâneo do, “aqui e agora”, sem profundidade para o futuro, sem informação do passado.

Querem nos fazer de gados! Estamos sendo amestrados; buzinas e berrantes que nos conduzem, reses marcadas, com substitutos tecnológicos das pastas químicas, tatuagens, brincos, tintas e ferros quentes. E, não percebemos, alienados e solícitos, subordinados a uma falsa liberdade de pensamento e de manifestação.

Somos gados...



 

terça-feira, janeiro 07, 2025

Um pouco de nada, e isto é tudo.

 


Por Carlos Roberto Husek, professor de Direito Internacional da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional Público e Privado

Escrevo com tinta transparente sobre águas.

A vida líquida transita nas esferas do universo, decantada em pequenos átomos de hidrogênio, onde se encontram as palavras. Do menino sonhador e deslumbrado surgiu o adolescente tímido, e deste, o velho, liquefeito em todas as suas histórias, a olhar o mundo, com as pálpebras caídas e os joelhos em falsete.

Escrevo para não deixar marcas.

Este penúltimo parágrafo, bem poderia ser o resumo de uma vida, de qualquer vida, e o que nos salvaria é a ilusão de que nos ouvem e nos leem, aqueles que nada têm a fazer, a não ser se mostrarem solícitos e compreensíveis, com a solidão das cidades, de paredes cinzas e sol escondido entre prédios.


Escrevo, com traços antigos de escrita indecifrável, garranchos sem significado, lidos pelos elementais, na liquidez dos meios de cada dia.


Este outro parágrafo, bem poderia não existir, e efetivamente não tem qualquer significado, a não ser o arremedo de longínquos espasmos e de uma comunicação sem retorno.
Escrevo com tinta transparente sobre águas. 

E quando ouço as notícias do mundo, mas me convenço que não são escritas nem pensadas, materialmente construídas sob o influxo do inconsciente coletivo, que põe tijolo sobre tijolo, e divulga o que há de ser uma parede, um cômodo, um muro, um palacete, um prédio, um tanque, quem o saberá? Porque a divulgação pelos meios eletrônicos, não forma a imagem completa do que se está a ouvir e do que se está a ver. Os meios eletrônicos são imateriais porque se dissolvem na tela e não guardam qualquer sentido da vida.
Escrevo com tinta transparente sobre águas.

As letras caem, as palavras submergem, e nada restará do pensamento, e nada restará da ação, mas escrevo, imaginando um reino de faz de conta.


2025 é um novo reino. Faz de conta que sabemos ser ele um pós-2024 e um pré-2026, porque tudo é convenção, e todas as convenções, assim como a natureza, se desfazem no pó das horas.

Bom que assim seja, nada devemos ao passado e nada devemos esperar do futuro. Tudo é, e sempre será, presente.

Escrevo para despertar os mortos, que enterremos a cada minuto.

Feliz 2025!