Por Fabrício Felamingo
Escreveu um
antigo cônsul britânico, que por aqui viveu durante 25 anos:
“Supõe-se
comumente que os brasileiros são bons oradores. Isso não é de todo verdadeiro.
Os brasileiros são interessantes conversadores e podem sempre usar sua
linguagem de modo pitoresco. Mas seus discursos convencionais são tropicais.
(...) São poetas dos quais não se pode esperar que adiram matematicamente à
verdade.”
“Os
brasileiros que, de modo geral, são inteligentes e, em muitos ramos do
conhecimento aplicado e da pesquisa, produziram nomes que estão ou mereciam
figurar em primeiro plano, sofrem de graves defeitos de visão em matéria
política. São capazes de deixar-se levar por simples rótulos ou fórmulas da
última novidade política, seja qual for a sua origem.”
“Os
brasileiros que viajam para o exterior parecem retirar, com algumas raras
exceções, muito pouco proveito político dessas excursões.”
“O futuro
de todas as nações está nas mãos da geração mais jovem. O jovem brasileiro
(...) tem de estar em guarda contra o superficialismo se desejar prestar algum
serviço ao seu país. Foi o caminho fácil do patriotismo superficial que levou a
geração mais velha do Brasil a evitar as verdadeiras questões políticas com as
quais se defrontou, depois que o Brasil se tornou uma república”.
Salvo pela
última frase, a análise feita acima aparentaria ter sido escrita nos dias
atuais. No entanto, data de 1934 e é feita por Ernest Hambloch[1]
no livro “Sua Majestade, o Presidente do Brasil: um estudo do Brasil
constitucional (1889-1934)”, editado pelo Senado Federal no ano de 2000.
É de certa
forma angustiante ver que tais observações do inglês sobre o Brasil não apenas
permanecem válidas, como atualmente estão escancaradas, sem qualquer
preocupação com verniz de disfarce. A recente viagem do Presidente do Brasil à
cúpula do G20 (e sua não ida à COP 26) mostram isso: linguagem
pitoresca, sem aderência à verdade, impondo rótulos políticos e patriotismo
superficial, numa viagem que de forma alguma trouxe proveito político ao
Brasil.
O Brasil
parece se repetir continuamente como farsa, sem ter deixado de lado, no
entanto, o drama na vida da população brasileira, com cada vez mais desemprego,
mais mortes decorrentes da pandemia, mais inflação e desesperança dos mais
jovens em relação ao seu próprio futuro. Nisso tudo, o drama permanece e se
agrava dia a dia; na política, a farsa seria cômica, não fosse trágica.
[1]
Ernest Hambloch (1886-1970) foi aprovado em primeiro lugar no concurso para o
serviço consular britânico. Esteve a serviço em países como França, Alemanha,
Itália, Sérvia, Suíça, Áustria e viveu no Brasil durante 25 anos, tendo
visitado todos os estados brasileiros à exceção de um. Foi autor de diversos
livros e correspondente do Times no Brasil. Nas palavras do imortal
acadêmico da ABL José Honório Rodrigues (1913-1987), autor do posfácio ao livro
aqui destacado, “(e)ssa obra abalou muito minhas condições presidenciais, e
me fez pensar seriamente nas vantagens concretas e históricas do
parlamentarismo no Brasil”.
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