Por Fabrício Felamingo
“O Brasil
está no limite. Pessoal fala que eu devo tomar providências, eu tô aguardando o
povo dar uma sinalização. (...) Eu não estou ameaçando ninguém, mas tô achando
que brevemente teremos um problema sério no Brasil” (fala do Presidente da
República em 14/04/2021).
Na página 319
do clássico Dicionário de Política de Bobbio (em coordenação conjunta com
Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, aqui citado a partir da 13ª edição,
Editora UnB), fui buscar a definição de democracia. No entanto, me
chamou mais a atenção o verbete imediatamente anterior – demagogia. Diz
ali: “(o) fenômeno da demagogia acentuou-se particularmente no nosso século [século
XX] com o advento e o desenvolvimento da sociedade industrial e com o
consequente aparecimento na cena política do papel determinante das massas e a
crise das democracias liberais. A era tecnológica, tendendo à massificação do
homem e à sua transformação em máquina, fez com que este tendesse facilmente a
desorientar-se e a perder a própria individualidade. O homem sente-se de tal
maneira isolado que é levado a buscar refúgio contra a própria angústia e
insegurança que o aflige. Passa então a adequar seu comportamento social e
político ao da massa. (...) Diante deste quadro, a instrumentalização das
massas, graças às novas técnicas de persuasão e manipulação das consciências
torna tudo fácil”.
“Pessoal
fala que eu devo tomar providências, eu tô aguardando o povo dar uma
sinalização.” No dia em que o Brasil chega aos 360 mil mortos em
decorrência da Covid-19 somos brindados com esta frase presidencial. Quais
providências estão sendo retidas pelo mandatário da Nação, aguardando um
hipotético comando popular? “Eu não estou ameaçando ninguém, mas tô achando
que brevemente teremos um problema sério no Brasil” Qual o problema sério o
Brasil enfrentará “brevemente”, mais sério do que 360 mil mortos? O 11 de
setembro causou menos de 1% de tais mortes, foi um problema sério. A Guerra do
Paraguai, que matou em torno de até 300 mil pessoas, a depender dos cálculos
apresentados, foi um problema sério. Mas agora o Presidente afirma que teremos
um problema sério em breve. Mas não informa à Nação qual seria.
“Pessoal
fala que eu devo tomar providências, eu tô aguardando o povo dar uma
sinalização.” Será que os quase 58 milhões de votos que o elegeram já não
foram uma sinalização suficiente de que ele deva “tomar providências”? Quais
novas sinalizações seriam necessárias para que providências fossem tomadas?
Fico a
imaginar o que pensaria o autor do verbete citado acima, Giampaolo Zucchini,
falecido em 2005. Aliás, o verbete Demagogia continua: “(h)oje é
possível falar de Demagogia moderna em contraposição à demagogia clássica,
não somente como possível momento detonador de um processo revolucionário e,
portanto, como elemento constitutivo de uma fase pré-revolucionária, mas também
como comportamento de um líder político que não precisa de levar
necessariamente as massas até a revolução, mas consegue sujeitá-las aos
próprios fins pessoais até levar a cabo, depois de obter seu largo
consenso, não mais um processo de democratização ou de subversão do sistema
sociopolítico, mas a instauração de um regime autoritário, do qual o
demagogo é o incontestável e despótico chefe (Führer). Meu
grifo. Sinalização de demagogia...
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