quarta-feira, novembro 09, 2022

Nazismo/Nacional-socialismo/hitlerismo, mussolinismo (e outros ismos)

 


Por Carlos Roberto Husek – professor de Direito Internacional da PUC/SP e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional Público e Privado

 

Não consigo bem entender esses “ismos” e o fanatismo (outro “ismo”) que eles provocam. As pessoas parecem ficar tomadas, a ponto de raivosamente empunharem armas, bandeiras e até (fato recente), atacarem ônibus escolares em Jundiaí (homens feitos, atacando um veículo cheio de crianças!).

Não percebo racionalidade nesses “ismos”: um bando de animais (humanos?) a ranger os dentes, embandeirados, que pretendem o ressurgimento de Hitler e de Mussolini no país do futebol, das praias, da diplomacia, da leveza nos relacionamentos?

Será alguma espécie de reencarnação dos espíritos guerreiros e primitivos da 2ª. Guerra Mundial? Sim, porque nem Hitler nem Mussolini tinham vida familiar e sexual normal (é o que dizem). Como é possível ser normal, detestando algumas espécies de raças e de mulheres e de opções sexuais? Talvez gostando só da própria imagem, admirando-se em um lago plácido ou em um espelho: narcisismo (outro “ismo”). Aliás, é certo, afirmam os analistas, que Hitler, Mussolini (para não dizer de outros, no mundo atual, na História e aqui no Brasil), adoravam a própria imagem, personificando-se perante o povo, para serem adorados e seguidos (sem qualquer oposição). Incrível, os seguidores e asseclas não pensam! Reagem aos gestos histriônicos, às falas inflamadas, como diante de um milagre religioso, de um ícone, de um mito!

Bobbio, Matteucci e Pasquino, explicam: “O nacional-socialismo se estruturava com base num darwinismo social nacionalista, racista e muito simplificado, tornado popular pelos escritos de radicais sectários. Porém, ao mesmo tempo, procurou, mediante uma mistura eclética de programas doutrinários e políticos, atingir todas as camadas da população. Os primeiros slogans do nacional-socialismo, pelo seu sucesso imperialista e expansionista e pela submissão ao Governo ditatorial nacionalista, foram elaborados para distrair a classe média e a classe operária dos reais problemas internos. A “comunidade nacional” foi escolhida para ser panaceia que curaria os males econômicos e políticos, no lugar do pluralismo econômico e da sociedade classista. As doutrinas militaristas e racistas foram os instrumentos utilizados para enganar e conquistar a população. Na campanha contra o tratado de Versalhes se fez uso de um nacionalismo agressivo que apelava para o tradicional sentimento alemão de unidade e foi explorada a visão de uma grande Alemanha unida[1] (mera coincidência com os recentes acontecimentos no Brasil? Deus, Pátria, Liberdade!). Deus para alguns – não para todos –, Pátria, somente a de um grupo que pegou para si o verde e amarelo (tão caro e bonito para todos os brasileiros, independente de raça, credo religioso ou posição política!), Liberdade, só para os apoiadores dos donos do poder. “...Além do culto ao Führer, que era uma resposta ao desejo autoritário de ordem, a versão social e biológica do anti-semitismo se tornou uma das primeiras características fanáticas do programa hitlerista”[2].

Não percebo racionalidade e inteligência nestes fanatismos.

Tudo isto estava embutido na consciência de milhares de pessoas, prontas para o gesto da supremacia branca, transformado em milhões de voto. Ignorava-se?

Como será o futuro? Agora, ao contrário dos intolerantes e obcecados pela imagem do mito, verde e amarelo e azul, mas poderá tornar-se negro com o símbolo da suástica no meio da “Ordem e Progresso”.

Por que será que livros e pensadores fazem tanto mal a essa gente?

Por que será que só querem medalhas e canhões?

Por que será que não duvidam de suas próprias ideias?

Como foi dito em uma piada: se a seleção brasileira não ganhar a copa do mundo, poderemos obrigar a FIFA a anular o resultado e nos oferecer o troféu. Somente nós somos efetivamente grandes, e o mundo do futebol tem que reconhecer isso!

A loucura tem limites, mas se espalha de tal maneira, que não é mais possível reconhecer o irmão, o vizinho, o parente, o primo, o amigo, dispostos a pegar em armas em nome de... em nome do que, mesmo? São como canibais e, também, auto canibais, comem a todos e a si mesmos, impondo religiosamente flagelos corporais e psicológicos em nome de nada. Suados em desforços físicos inimagináveis aparecem como hordas e se comportam como gado, comandados por uma voz interior, que grita: “Ao ataque”.



[1] Bobbio, Norberto. Matteucci, Nicola. Pasquino, Gianfranco. Dicionário de Política, Editora UnB, 5ª. ed, 1983, p.810.

[2] Ibidem, p. 810.

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