Carlos Roberto Husek
Professor de Direito Internacional da
PUC/SP e co-coordenador da ODIP – Oficina de Direito Internacional Público e
Privado
Existem alguns líderes no mundo, como
o da Venezuela, o da Coreia, o da Rússia, o dos Estados Unidos (Trump), este
último não eleito, que são casos psicanalíticos, não esquecendo no passado
recente, Hitler, o mais emblemático de todos.
Não se tem necessário diagnóstico
médico especializado, porquanto as falas, os gestos, as atitudes são
semelhantes, sempre cercados de uma multidão de adoradores que gritam, batem
palmas para as expressões mais absurdas e para as imagens construídas nos
discursos, inusitadas, por vezes primárias, grandiosas, pretensiosas, soberbas
e outras que conquistam o ouvinte e aliciam simpatizantes.
São casos, penso, que merecem
profunda reflexão, realista e séria, da personalidade que se analisa e da
sociedade contemporânea: ânsia de poder, corrupção estrutural, domínio de tudo
e de todos, falso conceito próprio positivo, mania de grandeza ou simples
proteção dos apaziguados e manutenção de uma rede de interesses informada e
comandada por alucinados escurecidos pela razão.
A sociedade seria, em si, doente,
produzindo filhos doentes que alcançam o poder? Tal pergunta se faz natural à
medida que se observa que aos desmandos de tais líderes, a sociedade não reage
e os apoia até o abismo final, a exemplo da Alemanha nazista.
O indivíduo, quando em meio a um
grupo transforma-se e, por vezes, conduz-se em obediência, cego e surdo à sua
consciência, como gado, parte de um rebanho. Em sendo este o caso, caberia, por
certo, alguma desculpa para este estado de coisas. Uma consequência esperada do
espírito humano dominado e convencido por uma realidade grupal.
Entretanto, se a massa age
correspondendo aos ditames de um desajustado, o que dizer daqueles que exercem
uma parcela do poder na mesma sociedade, obtida por caminhos diversos; eleição,
divisão de competências funcionais, constitucional e administrativa, e que agem
sem pensar, autonomamente, preservando o líder, atapetando o seu caminho, não
importando as consequências? Todos estariam sendo dirigidos pela mesma força
motriz do domínio e do encantamento, sem qualquer sobra de equilíbrio e de bom
senso? Aqui, talvez, a explicação é mais simples e direta; não se trata de uma
questão mental, mas de resguardo dos próprios benefícios e privilégios.
A complexidade do tema necessita de
estudo mais alentado, situado numa área de confluência entre a Psicanálise, a Psicologia,
o Direito, a Sociologia e a Política. A única e simplória certeza que temos é
que, de forma geral, os nomes mencionados no início deste artigo, têm iguais
caracteres. Afora a liderança e o poder, que alguns podem naturalmente exercer,
o que se tem plenamente aceito, há os que fazem questão que todos fiquem de
joelhos, e é a estes que nos referimos ao invocar a Psicanálise. A doutrina aponta
peculiaridades do indivíduo psicótico, a saber:
. desorganizações súbitas e sérias do
ser psíquico;
. perturbação das faculdades
relacionais;
. perda de contato com a realidade;
. neurose narcísica;
. psicose delirante;
. psicose crônica;
. falta de senso crítico para a
desordem no próprio pensamento;
. pensamento dissociativo; um
recolhimento a si mesmo;
. certa paranoia, caracterizada por
um delírio sistemático;
. delírio de grandeza;
. predominância da própria
interpretação das coisas; e,
.
confusão alucinativa.[1]
Há, ainda, a chamada “psicose branca”,
que não tem manifestação clínica identificável, o que talvez possa explique uma
cegueira coletiva, uma certa – não sei se a expressão tem consistência – esquizofrenia
de massa.
Enfim, dias modernos, em que o
passado parece não ter sido coberto pela pátina do tempo. A história poderia
tornar-se repetitiva, com infinitas representações em palcos diversos. Ficar na
plateia como mero assistentes, sem raciocinar sobre a vida e os acontecimentos,
não é por certo a melhor solução.
[1] Mijolla, de Alain. (Direção Geral) Dicionário Internacional da
Psicanálise. Tradução Álvaro Cabral, Imago.
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