por Carlos Roberto Husek
Prof. Da PUC/SP de Direito Internacional e um dos
coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional Público e Privado
A pergunta é: EUA e China estão interessados nessa ilha,
chamada pelos portugueses de “Formosa”? Resposta com eventuais explicações
políticas e econômicas: Estão.
Taiwan está situada ao sudeste da China continental, separada
pelo estreito de Taiwan, ao sul do Japão e norte das Filipinas, e tem uma
história longa para contar. No século XIV foi dominada pela China, em 1895 foi
cedida ao Japão, após a derrota da China na guerra Sino-Japonesa. Após a 2ª.
Guerra Mundial voltou para a soberania chinesa. Em 1949, quando Mao-Tsé-sung
ganhou a revolução na China continental, Chiang-Kai-shenk e seus partidários
fugiram para a Ilha, onde instalaram um governo democrático. Neste ínterim,
Taiwan obteve maciços investimentos norte-americanos, mas como a China
continental entrou para a ONU, e compôs o seu Conselho de Segurança, em 1971,
Taiwan retirou-se da Organização, tornou-se um país independente, embora não
reconhecido, como tal, por boa parte das organizações internacionais. Tem moeda
própria, governo democrático, indústria e comércio atuantes, e seus habitantes
não querem pertencer à China.
Entretanto, mantido em aquecimento ficou a pretensão da China
continental em considerar o território de Taiwan, como parte do território
chinês, e, também ficou neste estado, o desejo de Taiwan de continuar autônoma
e independente.
Agora, recentemente, parlamentar dos EUA resolve fazer uma
visita à “Ilha de Formosa”, sendo recebida com as honras devidas a uma
autoridade estrangeira.
A China continental entendeu que Taiwan foi tratada pelos EUA como Estado soberano, o que significa que para os EUA, ela não pertenceria à
China continental, e acendeu a brasa, que nunca se apagou,
dos gravetos da história e do orgulho chinês. Há de se perguntar: O mundo
precisava ver aceso mais este conflito, que bem ou mal, estava crepitando em
fogo baixo e lento?
Muitos dirão, e com razão: o conflito existe, desde sempre.
Ocorre que, na época em que vivemos com a Rússia querendo a
Ucrânia, com o despertar de desejos de conquistas, com a impossibilidade da ONU
resolver essa guerra, pelos meios pacíficos propostos na sua Carta, com a falta
de perspectiva de, pelo menos, em contornar politicamente os efeitos da guerra,
com a grita da sociedade internacional contra a invasão russa, com a afirmação
do poder militar russo, e por tabela de todo e qualquer poder militar de países
mais fortes sobre países mais fracos, com o desrespeito total às convenções de
direitos humanos, com a explosão da migração, decorrente de perseguições
políticas e do sofrimento, pergunta-se, mais uma vez: o mundo precisava disso?
A China continental se vê fortalecida nos seu desiderato de
domínio de Taiwan, e talvez, resolva empreender a aventura da conquista, de
fato e eventualmente de direito, subordinando toda Ilha ao seu sistema e
confirmando o desejo histórico de domínio.
Embora, entendamos que o Povo da Ilha e seus governantes têm o direito de viver uma vida republicana fora da China continental, em consonância com a nossa Constituição Federal – “autodeterminação dos povos” (art. 4º.III, CF), é fato que a movimentação norte-americana, foi feita em hora não apropriada, sem a devida inteligência diplomática, soprando nas cinzas os gravetos que representam para ambos os territórios (China e Taiwan), feridas históricas, não cicatrizadas, que possam vir a merecer, em tempos futuros, algum tipo de tratamento político condizente. Se historicamente se justifica a pretensão da China continental – não é de nossa simpatia, afirmações históricas de domínio -; se, ao contrário, “Formosa”, deverá continuar com seu mar, seu governo, seu povo e sua busca de personalidade internacional, são argumentos que necessitam ser analisados à luz do Direito Internacional, todavia, não merecem desfecho pela força, pura e simples (demonstrações de poderio militar da China continental, nesta semana, como a dizer: “Taiwan é e será plenamente nossa”).
Infelizmente, nestes tempos obscuros, a diplomacia e a
inteligência estratégica não são apanágios das grandes potências, que preferem,
a cada momento afirmarem-se pela força militar.
Vivemos em mundo que prefere o direito da força, do que a
força do direito. Há um longo e árido caminho para evolução. Os espíritas,
provavelmente diriam que houve reencarnação em massa de homens primitivos. Os
que se dizem cristãos, talvez possam vir a queimar as bruxas e crucificar os
espíritos independentes. Os budistas ficarão absortos e contemplativos, e nós
homens da vida cotidiana, temos de nos sentar sobre uma pedra – daqui a pouco
somente sobrarão pedras – e, assistirmos perplexos, desenrolar-se no palco do
mundo, o teatro do absurdo, com um personagem perguntando a outro, que entra no
palco sem a parte posterior do tronco: “amigo, você perdeu a cabeça?”
É para rir e para chorar.
É a história! Nem sempre compreendida. Não se respeita os direitos de uma minoria que preferiu criar um outro país livre e democrático.
ResponderExcluirDesculpe o anonimato. Nunca usei esta ferramenta. Mas o comentário foi de Henrique Torreira de Mattos-pai,
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