Necessitamos progredir e fugirmos das visões estreitas
daqueles que querem o poder pelo poder, e só pensam na sociedade como elemento
de manobra para os desígnios de ganância e domínio.
Não importa a visão mais à esquerda ou mais à direita – são
visões do mundo, do que é ou não prioritário para o desenvolvimento de uma
sociedade -, o que importa é conservar uma pauta básica relativa aos seres
humanos.
A esquerda e a direita, quando fogem da visão social mais
ampla, tendem a se encontrar no mesmo patamar de poder absoluto, porque
concluem, neurótica e cegamente, que só o mando de um líder, de um comandante,
de um salvador, poderia levar o povo ao paraíso, e com isso podemos continuar
amargando um compasso de espera por gerações e gerações, sem saber como os
nossos filhos e netos terão oportunidade de progredir, florescer, avançar,
crescer para uma vida mais digna, livre, consciente, equilibrada. Entretanto,
como almejar isso, dentro de discursos de ódio aos contrários, de apreço às
armas, de desconsideração às mulheres, de afastamento marginal dos diferentes,
de racismo, de abandono da liberdade individual e coletiva, de decidir caminhos
de construção generosos, que pudessem abraçar a todos e admitir a divergência
de opiniões?
Dizem que é o pêndulo social que dita as normas de uma
geração, ora para a esquerda ora para a direita. Hoje estaríamos no domínio do
conservadorismo e da direita radical.
Os idealistas, diante de opções extremistas, perguntariam:
seria possível harmonizar conceitos? Acho que não, porque, em princípio, quem
está no poder tende sempre ao radicalismo: eliminar o “inimigo”. Além do mais,
o “extremismo” diz tudo: ou se é de um lado ou se é de outro. Na verdade, ambos
estão do mesmo lado: o lado do fanatismo estrutural, religioso, filosófico,
político, ideológico. Todavia, ainda acho a esquerda moderada – o centro
esquerda – mais generoso.
A velha concepção dos dedos das mãos, ainda tem a sua lógica:
nos cinco dedos de ambas as mãos, há dedos que se aproximam mais de um e de
outro lado, e que por isso, sem deixar de pertencerem à esquerda ou à direita,
habitam lugares mais próximos e comuns. De qualquer modo, é preciso ter uma
escolha. Não há meio termo; e temo que a direita seja menos magnânima.
A escolha do caminho das armas, das simbologias do poder, das
mesuras, das distinções e das medalhas – que existem em ambos os lados, nos
seus extremos – me parece mais cultivada, de início, na visão da direita, pelo
menos aqui “pelos prados da América do Sul”: marchas, “motociatas”, emblemas,
jargões, bandeiras, hinos, armamentos, estátuas, bustos, fardas, palavras de
ordem, milícias, favorecimento de grupos, cultivo dos músculos a favor da
causa, e não da inteligência estratégica, que deve ficar centralizada nas mãos
de poucos – tudo isso dá medo, para os querem ver o céu mais azul, o horizonte
mais claro, os terrenos mais planos, as pessoas mais felizes.
Sonhar com um mundo melhor é ingenuidade, mas é necessário.
A verdade é que nos inculcam a ideia e o sentimento de
inferioridade cidadã (todos somos cidadãos de segunda classe). Para os que vivem, em geral, da política como
profissão, as pessoas comuns, não profissionais da política, são incapazes de
raciocínio social e político. Erro, fantasia, ignorância ou presunção.
Nos servimos de Erich Fromm: “...quer-nos parecer que
muitas das questões básicas da vida individual e social são muito simples, tão
simples de fato que se deveria esperar que todos as entendessem. Fazê-las
parecer tão incrivelmente complicadas que só um “especialista” possa
compreendê-las, e ele só em seu próprio campo limitado, tende de fato – muitas
vezes deliberadamente - a desanimar as pessoas que confiarem na sua própria
capacidade para pensar nos problemas que são realmente importantes...(...) O
resultado desta espécie de influência é duplo: um é o ceticismo e cinismo face
a tudo que é dito ou impresso, enquanto outro é a crença infantil em tudo o que
é afirmado por uma fonte autorizada. Esta combinação de cinismo e ingenuidade é
assaz típica do indivíduo moderno. Sua consequência essencial é desanimá-lo de
pensar e decidir por si mesmo.”[1]
Por que temos de acreditar nos fanáticos, intolerantes,
inflexíveis? Todos os lados (os dois que mencionamos e outros derivados) têm os
seus, mas podemos pensar, e no mínimo – lugar comum de se dizer – seguir o
caminho menos ruim.
Não fujo dos meus medos: não quero armas, não quero milícias,
não quero confronto entre as instituições, não quero desrespeito ao Judiciário,
não quero troca de favores mesquinhos e subalternos entre o Executivo e
Legislativo, não quero desrespeito à Constituição Federal, não quero governo de
apadrinhados, não quero desconsideração com as mulheres e com raças diferentes,
não quero afirmações grotescas de desrespeito á religião, não quero descrédito
do sistema jurídico. Quero um futuro presidente subordinado à Lei Maior,
subordinado ao Estado Democrático de Direito e com visão de estadista, que
pense no povo.
Depois de serem eleitas pessoas que se vangloriam,
simplesmente, em obedecer ao poder de mando, e se dobram às injunções
dominadoras dos ricos e poderosos, em detrimento de qualquer raciocínio na área
da saúde, na área do meio ambiente, na área da educação, apesar da
incompetência comprovada por técnicos e até por organismos internacionais, fico
com a sensação de tempos muito difíceis.
A única esperança é pensar.
Vamos pensar...
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