sexta-feira, junho 25, 2021

EMPATIA

 


Por Fabrício Felamingo

 

Há meses preenchemos este espaço virtual com análises sobre a situação limite pela qual o Brasil passa. Na verdade, nosso espaço deveria ser voltado às conversas sobre o direito internacional, mas a calamidade das atuais 500 mil mortes se sobrepõe a tudo. Não que o direito (internacional ou outros ramos) não tenha ligação possível de ser feita, mas o absurdo de vermos pessoas morrendo à espera das vacinas é entristecedor demais.

Como foi possível que tenhamos chegado a este ponto? Como, por outro lado, foi possível termos deixado a polarização política crescer a tal ponto que se identificam lados políticos a partir do remédio que uns e outros tomam ou deixam de tomar? Talvez já estivéssemos mergulhados nessa polarização sem nos dar conta disso?

Naturalmente, a resposta não é fácil tampouco está à mão. A quantidade de notícias falsas parece se espalhar em progressão geométrica e ser o ponto negativo da moderna facilidade do trânsito das informações entre as pessoas, algo muito bom que a tecnologia proporciona e que inexistia há 20 anos, e era menor há 10. Notícias falsas em si sempre existiram – Collor foi eleito também na esteira de “notícias” de que seria o antídoto aos “comunistas” que, eleitos, invadiriam casas para expropriar bens e “socializá-los”. Aliás, a caça aos comunistas que já foi fake news nos EUA, ainda o é no Brasil.

Espalhador de fake news ou crente nas fake news... quem é pior? A resposta talvez não ajude a resolver nosso problema, especialmente se considerarmos que, por vezes, confundem-se nas mesmas pessoas ambas as figuras. O que o Brasil precisa é de mais educação, todos sabemos (solução lenta) mas, também, mais empatia (solução inexistente, pelo visto). Empatia com a qual não contam nem mesmo os eleitores do Presidente da República, que entende serem merecedores de “andar de jegue” e não de avião seus críticos. Ou que xinga abertamente profissionais da imprensa. Ou que exorta a todos que tirem suas máscaras de proteção nestes tempos de pandemia. Ou que estimula o uso de medicamentos ineficazes. A lista é longa e com tópicos ainda piores do que os listados aqui. Não há na figura do mandatário máximo qualquer remoto traço de empatia com seus governados, exceto aos seus convertidos.

Se 500 mil mortos não significa o fundo do poço ainda, infelizmente, dado que mais mortes ocorrem todos os dias, por outro lado a lenta vacinação tende a fazer efeito aos poucos e, em 2022, imagina-se um ano melhor, ao menos por comparação com os catastróficos 2020 e 2021. Nesse contexto, uma reeleição parece ser possível, talvez provável. É desanimador imaginar esse quadro, mas ainda assim devemos exercitar nossa empatia e tentar, com diplomática insistência, mostrar a realidade a tantos quantos possível, buscando evitá-lo. É o que temos feito aqui, pedindo desculpas pela insistência monotemática.


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