Por Fabrício Felamingo
Há meses
preenchemos este espaço virtual com análises sobre a situação limite pela qual
o Brasil passa. Na verdade, nosso espaço deveria ser voltado às conversas sobre
o direito internacional, mas a calamidade das atuais 500 mil mortes se sobrepõe
a tudo. Não que o direito (internacional ou outros ramos) não tenha ligação
possível de ser feita, mas o absurdo de vermos pessoas morrendo à espera das
vacinas é entristecedor demais.
Como foi
possível que tenhamos chegado a este ponto? Como, por outro lado, foi possível
termos deixado a polarização política crescer a tal ponto que se identificam
lados políticos a partir do remédio que uns e outros tomam ou deixam de tomar?
Talvez já estivéssemos mergulhados nessa polarização sem nos dar conta disso?
Naturalmente,
a resposta não é fácil tampouco está à mão. A quantidade de notícias falsas
parece se espalhar em progressão geométrica e ser o ponto negativo da moderna facilidade
do trânsito das informações entre as pessoas, algo muito bom que a tecnologia
proporciona e que inexistia há 20 anos, e era menor há 10. Notícias falsas em
si sempre existiram – Collor foi eleito também na esteira de “notícias” de que
seria o antídoto aos “comunistas” que, eleitos, invadiriam casas para
expropriar bens e “socializá-los”. Aliás, a caça aos comunistas que já foi fake
news nos EUA, ainda o é no Brasil.
Espalhador de fake
news ou crente nas fake news... quem é pior? A resposta talvez não
ajude a resolver nosso problema, especialmente se considerarmos que, por vezes,
confundem-se nas mesmas pessoas ambas as figuras. O que o Brasil precisa é de
mais educação, todos sabemos (solução lenta) mas, também, mais empatia (solução
inexistente, pelo visto). Empatia com a qual não contam nem mesmo os eleitores
do Presidente da República, que entende serem merecedores de “andar de jegue” e
não de avião seus críticos. Ou que xinga abertamente profissionais da imprensa.
Ou que exorta a todos que tirem suas máscaras de proteção nestes tempos de
pandemia. Ou que estimula o uso de medicamentos ineficazes. A lista é longa e
com tópicos ainda piores do que os listados aqui. Não há na figura do
mandatário máximo qualquer remoto traço de empatia com seus governados, exceto
aos seus convertidos.
Se 500 mil
mortos não significa o fundo do poço ainda, infelizmente, dado que mais mortes
ocorrem todos os dias, por outro lado a lenta vacinação tende a fazer efeito
aos poucos e, em 2022, imagina-se um ano melhor, ao menos por comparação com os
catastróficos 2020 e 2021. Nesse contexto, uma reeleição parece ser possível,
talvez provável. É desanimador imaginar esse quadro, mas ainda assim devemos
exercitar nossa empatia e tentar, com diplomática insistência, mostrar a
realidade a tantos quantos possível, buscando evitá-lo. É o que temos feito
aqui, pedindo desculpas pela insistência monotemática.
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