Por Henrique A. Torreira de
Mattos
Atualmente,
o conceito de Sustentabilidade Empresarial vem sendo muito discutido, agora com
o incremento do conceito ESG (Environmental, Social and Governance) uma
vez que o mundo já vem sofrendo com a escassez de vários recursos naturais,
tendo em vista que o modelo econômico adotado até então, crises diversas
advindas da Pandemia, que vem se
mostrando cada vez mais ineficaz e prejudicial para a economia global.
O
crescimento da economia mundial visto até os últimos anos teve início como a
revolução industrial, iniciada na Inglaterra no século XIX, que fez com que a
indústria da época, através do desenvolvimento tecnológico, pudesse dele se
beneficiar para a melhoria de seus processos de produção, visando o crescimento
industrial para atender não apenas o mercado doméstico ou regional, mas
principalmente atuar no mercado mundial.
Dessa
forma, iniciado com a revolução dos métodos de produção no setor industrial,
houve o fomento do comércio dos produtos para escoar a produção e
consequentemente também ocorreu o crescimento da atividade humana, o aumento da
população mundial em função da qualidade de vida proporcionada, que por ter
sido desenfreada e sem planejamento, hoje, vive-se o dilema que de alguma forma
a melhoria da qualidade de vida do homem proporcionada no passado pela
revolução industrial, é vista como o principal motivo dos problemas da falta de
qualidade de vida que já sofremos no mundo atual, cujo questionamento se
aprofundou durante a pandemia, e que se agravarão num futuro próximo, em função
principalmente dos efeitos causados ao meio ambiente e à economia.
Durante
muito tempo o ser humano viu no meio ambiente uma fonte ilimitada de recursos
que hoje já não é real, já que a todo instante percebemos a limitação existente
em função do mau uso feito destes recursos durante os vários anos de sua
exploração.
A
cultura capitalista do consumismo criou um ciclo desenfreado de consumo e
descarte tão acelerado, que além da exploração do meio ambiente para extração
dos insumos utilizados para uma produção acelerada, a mesma rapidez é notada
com o descarte de produtos de volta ao meio ambiente, poluindo-o e tornando
este ciclo cada vez mais prejudicial ao ser humano, tanto do ponto de vista dos
impactos causados à saúde do homem, como em relação aos impactos à economia,
pois além de faltar recursos para a produção, estes acabam se tronando mais
caros, sem esquecer que atualmente as empresas também precisam investir muito
capital em tecnologia necessária para reduzir o impacto ao meio ambiente, seja
na própria produção, seja em programas de despoluição.
Além
dos problemas ambientais destacados acima também se verifica o problema da
pobreza mundial, cuja erradicação é uma das metas trazidas pela ONU. A pobreza
mundial é causada em grande parte em função do desequilíbrio econômico entre os
Estados, causado em parte pela política altamente competitiva criada pelas
empresas multinacionais que visam o lucro cada vez maior para se manter no
mercado, adotando políticas de diminuição de custos que afetam diretamente seus
trabalhadores.
No
caso das multinacionais, verifica-se que o capital gerado através das
atividades desenvolvidas em determinado Estado, é em sua maioria devolvido à
matriz, não havendo uma retenção do capital onde desenvolve suas atividades e
consequentemente não favorece o desenvolvimento local na mesma proporção da
riqueza que retira.
Um
fator que também favorece esta competição cada vez mais acirrada é a
globalização, já que em função deste fenômeno existe uma integração maior entre
os mercados, sendo adotados modelos de gestão e modelos econômicos semelhantes,
visando à manutenção da competitividade.[1]
Verifica-se,
portanto, que as empresas para fazer parte do mercado global precisam se
adequar às novas percepções, sendo atualmente obrigatório às empresas que
querem continuar a atuar no mercado, adotarem os conceitos de sustentabilidade
e responsabilidade social. Por conta disso, vem se desenvolvendo sobremaneira o
conceito de sustentabilidade do setor empresarial.[2]
Crescimento
econômico e Ecodesenvolvimento
Os
dois conceitos, crescimento econômico e ecodesenvolvimento, sempre foram vistos
como antagônicos, principalmente pelas organizações não-governamentais
ambientais que sempre criticaram, de maneira radical, o modelo de
desenvolvimento econômico empresarial, tendo em vista a degradação ambiental
causada ao nosso planeta.
Atualmente,
pontos de vista tidos como antagônicos começam a trilhar um caminho para a
convergência, já que as empresas começam a se conscientizar de que precisam
manter o seu crescimento sobre a ideia do uso consciente do meio ambiente, já
que a economia deve continuar a crescer em função do aumento da população e
suas necessidades de crescimento. Por outro lado, os ambientalistas também se
conscientizaram de que a economia precisa crescer para a sociedade não entrar
em colapso, evitando, assim, uma maior degradação ao meio ambiente.
Desta
convergência tira-se o princípio norteador da sustentabilidade (triple botton line adiante tratado),
cujo modelo ainda não foi definido ou se definido não quer dizer que seja o
correto, tanto para a economia quanto para o meio ambiente. De todo modo, o Global
Reporting Initiative orienta as empresas quanto aos critérios de
sustentabilidade a serem seguidos.[3]
A
Comissão Interministerial para Preservação da Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - CIMA (BRASIL, 1991), observa dois
fatores relevantes sobre o crescimento econômico em contraposição à degradação
do meio ambiente:
(i)
concentração progressiva da população em
cidades, adensando o meio urbano e produzindo, em consequência, problemas
ambientais e
(ii)
distribuição desigual do espaço, tanto no
que diz respeito aos recursos naturais como nas atividades econômicas.
A
solução do problema passa pela relação, menor produção para menor poluição,
cujo efeito sem dúvida visa uma menor poluição do meio ambiente, porém não se
sabe até que ponto esta correlação está correta ou seria sustentável.
Uma
das questões que se discute sobre esta dicotomia é a pobreza, sendo que a
geração de riqueza através do crescimento econômico seria o caminho para sua
maior e melhor distribuição para erradicá-la.
Contudo,
a partir do momento que se impõe uma diminuição da produção, consequentemente
se verifica uma diminuição da geração de riqueza, fazendo com que entre em um
círculo vicioso que deve ser melhor equacionado, cujo ponto de equilíbrio ainda
não se alcançou. Entretanto, a ONU continua seguindo suas diretrizes de que o
equilíbrio seja alcançado, tendo lançado a campanha Green Jobs (trabalho verde) que visa a busca de que as atividades
empresariais sejam menos impactantes ao meio ambiente.
A
discussão desta questão deve ser multidisciplinar, pois envolve questões além
de econômicas e ambientais, sociais e políticas, além de, obviamente, ter o
respaldo do ponto de vista jurídico.
O
desenvolvimento sustentável surge num momento de carência da humanidade por um
equilíbrio nas relações econômicas, sociais e ambientais. Tal afirmativa é
viável ao analisar o panorama econômico e social mundial, onde até o início da
crise financeira de 2008, nunca houve tanta prosperidade econômica, ao mesmo
tempo em que se agravou a miséria e a pobreza no planeta. Apesar de alguns
países conseguirem se reestabelecer após este período, agora, a pandemia vem
novamente nos mostrar as fragilidades dos métodos de desenvolvimento adotados
pelo ser humano e empresas em geral.
Sem
dúvida precisamos atrelar o conceito de desenvolvimento sustentável à proteção
do meio ambiente, sendo inferida, inclusive, a sua origem através da premissa
ambiental, no início da década de 70.
A
contraposição de ideias relacionadas ao favorecimento da questão ambiental e
econômica foram travadas pelo Clube de Roma[4], onde as duas visões
contraditórias eram observadas e discutidas.
De
um lado, os possibilistas culturais, também chamados tecno-cêntricos radicais,
que entendem que os limites ambientais ao crescimento econômico são relativos
diante da capacidade inventiva da humanidade, sendo o crescimento econômico,
neste caso, positivo para eliminar as disparidades sociais, através de um custo
ecológico que, apesar de inevitável, é considerado irrelevante diante das
vantagens obtidas.
A
outra visão, entendem os deterministas, também chamados de ecocêntricos radicais,
que partem da premissa de que o meio ambiente apresenta limites absolutos ao
crescimento econômico, estando a humanidade perto de um momento catastrófico de
saturação.[5]
Para
Ademar Romeiro, o ecodesenvolvimento almeja uma tenda, justamente para conciliar
as duas posições acima descritas, visando direcionar ou nortear a atuação
econômica para se chegar a um denominador comum capaz de garantir o crescimento
da economia de uma maneira consciente e sustentável, levando em conta premissas
como a eficiência econômica, desejo social e prudência ecológica.
No
momento em que vivemos, a visão dos ecocêntricos vem ganhando força em fusão
das patentes limitações naturais encontradas e previstas para o futuro, como é
o caso da limitação de recursos naturais como água e energia.
[1] MUTO, Silvio. “Até que
ponto a redução de verbas para projetos sócioambientais fere os princípios de
sustentabilidade tão apregoados nos últimos anos?”. Revista Capital Aberto.
Edição de março de 2009. Pág. 14.
[2] CORAL, Elisa; SELIG, Paulo Maurício; FILHO, Nelio Casrotto; ROSETTO,
Carlos Ricardo. Modelo de planejamento
estratégico para a sustentabilidade empresarial. 2002. Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis – SC, 2002.
[3] Global Reporting Initiative (GRI)
é associação pioneira no desenvolvimento de diretrizes universais relacionadas
à sustentabilidade das empresas ao mais alto grau de aceitação. Fonte: WWW.globalreporting.org.
[4] Instituição fundada
pelo industrial italiano Aurelio Peccei em 1968, que visava realizar um exame
analítico dos problemas que afligiam a humanidade da época.
[5] ROMEIRO, Ademar R. “Desenvolvimento
sustentável e mudança institucional: notas preliminares”. Instituto de
Economia – Textos para Discussão, Texto 68, Unicamp,1999. Pág. 3.
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